Gueto de Varsóvia: símbolo da perseguição e da resistência dos judeus poloneses

Atualizado em 15 de novembro de 2022 – 7 min de leitura

Gueto de Varsóvia

Quem está planejando conhecer a capital da Polônia, precisa incluir no roteiro uma visita ao que restou do Gueto de Varsóvia, local para onde foram levados os judeus perseguidos pelo nazismo e que, mais tarde, se tornaria símbolo da resistência desse povo.

A Polônia foi o país que mais sofreu com a Segunda Guerra: mais de seis milhões de poloneses morreram no conflito, entre 1939 e 1945. A maioria, homens e mulheres comuns, nada tinha a ver com o conflito ideológico que motivou os ataques e a ocupação do país.

Para ter uma ideia, Varsóvia teve mais de 85% de seu território destruído e sua população foi reduzida drasticamente para cerca de 10%: de 1,3 milhão de pessoas, a cidade passou a ter pouco mais de 150 mil.

Gueto de Varsóvia

Neste artigo, eu vou explicar sobre:

Sobre a Segunda Guerra

Para entender o que foi o Gueto de Varsóvia, precisamos entender o contexto da Segunda Guerra Mundial e como o regime nazista perseguiu e matou minorias em vários países da Europa.

A Segunda Guerra Mundial teve como motivação principal a conquista de territórios por parte da Alemanha nazista. O país tinha o claro objetivo de repovoar toda a Europa com a raça alemã.

O primeiro passo para a maior guerra de todas as eras aconteceu em 1º de setembro de 1939, quando o exército de Adolf Hitler invadiu a Polônia.

Dezesseis dias depois, o exército vermelho da ex-União Soviética também entrou no combate avançando pela fronteira oriental do país. Isso porque a maioria das tropas polonesas se concentrava na porção ocidental, por onde avançavam os militares alemães.

O que o mundo ainda não sabia, até então, é que toda essa trama de ocupação e de divisão da Polônia já tinha sido acordada entre Stalin, líder da antiga União Soviética, e Hitler, comandante das forças alemãs, no Pacto de Não-Agressão.

Gueto de Varsóvia

Disputando o mesmo território, os dois países protagonizaram uma guerra que devastou grande parte das cidades polonesas.

Para ter uma ideia, Varsóvia, a capital da Polônia, teve mais de 85% de seu território destruído e sua população foi reduzida drasticamente para cerca de 10%: de 1,3 milhão de pessoas, a cidade passou a ter pouco mais de 150 mil.

No lado nazista, dezenas de campos de concentração foram criados, inicialmente, para abrigar presos políticos – poloneses que se opunham ao regime nazista – e soldados soviéticos derrotados nos combates. Mais tarde, esses campos passaram a receber judeus vindos de diversas partes da Europa que, em 1941, já estava sob o domínio de Hitler.

Com o envolvimento de países como Estados Unidos, Inglaterra e França, os ataques ao domínio alemão se intensificaram, aumentando o número de civis mortos, tanto nos países ocupados, quanto na própria Alemanha.

O maior conflito de todos os tempos acabou em 1945, com a rendição do Japão, país aliado da Alemanha, depois que Hiroshima e Nagazaki foram destruídas por bombas atômicas.

Ideologia Nazista

Os princípios que nortearam a ideologia nazista foram o ódio aos judeus, a negação da democracia e do comunismo, e a convicção da superioridade da raça alemã sobre qualquer outro povo.

Com a ideia de criar uma sociedade pura, livre de outras etnias, os nazistas perseguiram e mataram milhões de judeus, mas não apenas. Eslavos, russos, ciganos, homossexuais e tantos outros grupos foram capturados, escravizados e assassinados nas câmaras de gás ou simplesmente fuzilados.

Liderado por Adolf Hitler, o Partido Nazista tomou o poder na Alemanha, em 1933, e, desde então, a política de doutrinação da população por meio da propaganda, que mostrava uma realidade disfarçada, passou a ocupar os veículos de comunicação nacionais. Isso criou, em parte dos alemães, uma forte simpatia com os ideais defendidos pelos nazistas.

Em um de seus famosos pronunciamentos, durante o congresso do Partido Nazista de 1937, Adolf Hitler defendeu o seu modelo nada convencional de formação.

Estamos educando uma juventude diante da qual o mundo inteiro temerá. Eu quero uma juventude que seja capaz de realizar violações, e que seja forte, poderosa e cruel“, declarou o ditador.

Em busca de poder, a Alemanha nazista matou, invadiu territórios e levou a Europa e países como Estados Unidos e Japão a se envolverem na maior guerra de todos os tempos. Uma guerra que não apenas mudou as relações políticas, mas que, principalmente, marcou para sempre a história da humanidade.

Gueto de Varsóvia

Criado pelos nazistas em 1940, o Gueto de Varsóvia era um lugar nada agradável, onde judeus de toda a Polônia foram obrigatoriamente confinados.

Cercado por muros de tijolos vermelhos, o espaço chegou ter a maior concentração de judeus marginalizados de todo o período da Segunda Guerra.

Em seu auge, quase 450 mil pessoas em condições precárias viviam amontoadas dentro de seus muros, em meio a doenças e uma sujeira sem fim – serviços de coleta de lixo, esgoto e tratamento de água não funcionavam dentro do Gueto.

A triste memória do Gueto de Varsóvia

Foto: Jürgen Stroop

Depois de serem confinados como animais, os judeus aguardavam o momento de serem enviados aos campos de concentração.

Um dos principais destinos da população do Gueto, o campo de Treblinka, ficava a 105 quilômetros de Varsóvia. A partir de 1942, ele passou a receber mais e mais judeus, que, sem saber de nada, entravam nos vagões do trem em direção a um único destino: a morte.

Hoje, sabemos que grande parte dos passageiros era formada por idosos e crianças.

Atrocidades médicas

Nessa época, já corria na Europa a fama dos experimentos médicos feitos com judeus no campo de Ravensbrück. Naquela estação de horrores, as equipes médicas removiam os músculos e os nervos de pessoas vivas, sem anestesia.

A desculpa era entender como os tecidos humanos podiam se regenerar.

No campo de Dachau, as invenções da equipe médica eram piores: a pele dos prisioneiros mortos servia de matéria-prima para bolsas, chinelos e luvas.

Gueto de Varsóvia

Se não tivesse mortos suficientes, era só matar mais alguns.

A vida dos judeus valia muito pouco – ou simplesmente nada – para a ideologia nazista. Mas, como sabemos, outros grupos também foram perseguidos por Hitler.

O pacote de maldades incluía eslavos, negros, ciganos, gays e Testemunhas de Jeová, mas, entre as minorias, os judeus eram a maioria. No Gueto de Varsóvia eles eram unanimidade.

Revolta de Varsóvia

Dentro do Gueto, homens e mulheres que ainda tinham um sopro de esperança, planejaram uma revolta, uma luta dos judeus contra a opressão nazista. A ajuda vinha de fora, de simpatizantes que infiltravam armas e explosivos no Gueto.

Há inúmeras histórias de poloneses que se envolveram com as dolorosas histórias do Gueto de Varsóvia. Uma delas é a de Irena Sendler que resgatou mais de 2.500 crianças, pondo em risco sua própria vida.

Durante os primeiros dias do que ficou conhecido como o Levante de Varsóvia – Powstanie warszawskie, em polonês –, o pequeno exército judeu, formado por pessoas que nunca tinham pegado em uma arma de fogo antes, incluindo crianças, teve êxito.

Isso só aconteceu porque os nazistas jamais esperavam uma reação dos confinados.

Entretanto, como o poder de fogo do exército de Hitler era infimamente maior, logo a situação foi controlada. Como vingança, em 1943, o ditador alemão mandou exterminar todos os judeus do Gueto e, mais, ordenou que o lugar fosse completamente destruído.

Gueto de Varsóvia hoje

Durante a reconstrução da cidade, no pós-guerra socialista, vários prédios foram construídos na região onde ficava o Gueto.

Os únicos sinais de sua existência são uma pequena parte do Muro do Gueto, que virou um memorial, e o traçado no chão, que podemos ver em algumas áreas da cidade.

Museu do Gueto

Em breve, será possível visitar o Museu do Gueto de Varsóvia, que está sendo construído no prédio onde funcionou um hospital para crianças e que fica na única parte preservada do Gueto.

Por enquanto, é possível visitar o Museu do Levante de Varsóvia.

Em três andares, ele exibe um incrível acervo sobre esse período histórico, incluindo a recriação de ambientes do Gueto, relatos e histórias de sobreviventes. Isso além de um vídeo em 3D que mostra como a cidade ficou devastada depois da Segunda Guerra.

Em toda a cidade há vários pontos de memória, sempre identificados com a sigla WP.

Estes pontos lembram os mortos do movimento de resistência judeu, o Levante de Varsóvia. Uma visita ao Memorial do Levante de Varsóvia também vai lhe ajudar a entender melhor essa história.

Como visitar o Memorial do Gueto

Quanto custa

A entrada no Museu do Levante de Varsóvia custa PLN 25 – nas segundas-feiras é gratuita. A visita guiada e inglês, alemão, francês, russo, italiano ou espanhol custa PLN 150. O áudio guia em português custa PLN 10.

Todos os outros lugares são gratuitos e você pode aproveitar para conhecer a herança dos judeus de Varsóvia.

Quando ir

O Museu não abre nas terças-feiras. Nos outros dias, o horário de funcionamento é de 10h às 18h.

O verão na Polônia é bem curto, já o inverno é longo e muito frio. Os meses mais gelados vão de outubro a abril, quando os termômetros marcam temperaturas abaixo de zero.

Entre maio e setembro, os dias tendem a ser mais ensolarados, com temperaturas variando entre 20 e 27 graus. O mês mais quente é julho, e o mais frio é janeiro, com temperaturas chegando a menos cinco graus.

Como chegar

O Memorial do Muro do Gueto fica no pátio de alguns prédios residenciais. A entrada pode passar despercebida, pois fica entre algumas lojas. A ONZ é a estação de metrô mais próxima, e os ônibus da linha 174 param praticamente na esquina.

Para chegar ao Museu do Levante, você pode descer na estação Daszyńskiego, do metrô. Pode também, pegar o bonde elétrico das linhas 1, 9, 13, 20, 22, 24 e 27, e descer no ponto do museu – Muzeum Powstania Warszawskieg.

O Memorial do Levante de Varsóvia fica na Cidade Velha – Stare Miasto –. É lá também, onde estão muitos outros monumentos que lembram esta época. Para chegar aqui, pegue um dos ônibus das linhas 116, 180, 503, 518 ou N44. Veja as localizações no mapa abaixo:

O Aeroporto Frederic Chopin (WAW), em Varsóvia, é o mais importante da Polônia. Aqui, chegam voos nacionais e internacionais, mas não há voo direto do Brasil para o país.

→ Voos para a Polônia

Para quem gosta de cinema, uma boa dica é dar uma olhada na lista de 50 filmes sobre a Segunda Guerra Mundial.

Sobre o Autor

<a href="https://www.penaestrada.blog.br/author/altier/" target="_self">Altier Moulin</a>

Altier Moulin

Sou jornalista, capixaba e apaixonado pelo universo viajante. Sempre gostei de contar histórias e de extrair do cotidiano um valor que muitos não percebem. Quando criança, sonhava em viajar pelo mundo e, já adulto, isso virou um propósito de vida.

comentários

6 Comentários

  1. Gustavo

    … obg pela materia e dicas

    Responder
    • Altier Moulin

      Por nada, Gustavo.

      Um abraço.

      Responder
  2. Maria Bernadete Malerbo

    parabéns Altier. seu post é perfeito. rico em historia e detalhes. obrigada pela narração, será de grande ajuda na elaboração do nosso roteiro

    Responder

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