Visitar Auschwitz foi, sem dúvida, a experiência mais triste que já tive. Mas, antes que você desista de embarcar na viagem para este antigo campo de concentração nazista, eu preciso dizer que valeu a pena.
Entrar naquele ambiente tão opressor e tão importante para a história recente da humanidade me proporcionou viver uma experiência transformadora, e é exatamente por isso que eu encorajo você a fazer o mesmo.
Como é visitar Auschwitz
A visita começa em Auschwitz I. Depois de cruzar o famoso portal com a frase arbeit macht frei – que significa o trabalho liberta –, você vai entrar num mundo onde tudo é horrível.
Tudo é tão horrível que é difícil acreditar que o ser humano tenha sido capaz de fazer tanta barbaridade com inocentes, pessoas comuns, como eu e você, que nada tinham a ver com o conflito liderado por Adolf Hitler.
Para você entender melhor, o nome Auschwitz foi usado para identificar um conjunto específico de campos de concentração e de extermínio.
Ao todo, durante a Segunda Guerra Mundial, foram erguidos três campos nesse modelo: Auschwitz I, Auschwitz-Birkenau e Auschwitz-Monowitz.
A Segunda Guerra Mundial teve como motivação principal a conquista de territórios por parte da Alemanha nazista. O país tinha o claro objetivo de repovoar toda a Europa com a raça alemã.
O primeiro passo para a maior guerra de todas as eras aconteceu em 1º de setembro de 1939, quando o exército de Hitler invadiu a Polônia.
Dezesseis dias depois, o exército vermelho da ex-União Soviética também entrou no combate avançando pela fronteira oriental do país, já que a maioria das tropas polonesas se concentrava na porção ocidental, por onde avançavam os militares alemães.
O que o mundo ainda não sabia, até então, é que toda essa trama de ocupação e de divisão da Polônia já tinha sido acordada entre Stalin, líder da antiga União Soviética, e Hitler, comandante das forças alemãs, no Pacto de Não-Agressão.
Disputando o mesmo território, os dois países protagonizaram uma guerra que devastou grande parte das cidades polonesas.
Para ter uma ideia, Varsóvia, a capital da Polônia, teve mais de 85% de seu território destruído. Além disso, sua população foi reduzida drasticamente para cerca de 10%: de 1,3 milhão de pessoas, a cidade passou a ter pouco mais de 150 mil.
No lado nazista, dezenas de campos de concentração foram criados, inicialmente, para abrigar presos políticos – poloneses que se opunham ao regime nazista – e soldados soviéticos derrotados nos combates.
Mais tarde, esses campos passaram a receber judeus vindos de diversas partes da Europa. Em 1941, o continente já estava sob o domínio de Hitler.
Com o envolvimento de países como Estados Unidos, Inglaterra e França, os ataques ao domínio alemão se intensificaram, aumentando o número de civis mortos, tanto nos países ocupados, quanto na própria Alemanha.
O maior conflito de todos os tempos acabou em 1945, com a rendição do Japão, país aliado da Alemanha, depois que Hiroshima e Nagazaki foram destruídas por bombas atômicas.
O primeiro deles – que ficou conhecido como Auschwitz I – foi construído, a partir de 1940, na cidade de Oświęcim, a 67 quilômetros de Cracóvia, na Polônia.
O mais terrível e o maior de todos era Auschwitz-Birkenau, que começou a ser planejado quando o primeiro campo estava quase com lotação esgotada.
Neles, foram mantidos milhões de judeus, ciganos e outras minorias vindas de várias partes da Europa, além de soldados soviéticos presos durante a guerra. Mas, a principal função desses complexos era mesmo matar.
A visita aos alojamentos
O imenso Museu de Auschwitz, que na verdade é o próprio campo de concentração, foi aberto em 1955, dez anos depois do fim da Guerra, e seus principais atrativos estão espalhados por cinco dos 30 prédios que compõem o complexo.
Para visitar Auschwitz é preciso caminhar bastante: além de entrar nos alojamentos 4, 5, 6, 7 e 11, você também vai conhecer a câmara de gás, o crematório e o local onde funcionou o escritório do exército nazista que comandava todo o campo.
No primeiro alojamento, uma série de fotos da época mostra como era feita a seleção dos prisioneiros.
Aqui, estão também números e dados que contabilizam o que foi o maior massacre da história do mundo moderno.
Nas salas seguintes, há grandes vitrines onde estão montanhas de sapatos, óculos, malas e outros objetos pessoais.
Tudo aquilo foi confiscado dos prisioneiros assim que eles chegaram ao campo ou, como no caso dos óculos, foi retido antes deles serem enviados para a morte na câmara de gás.
Porém, nada me impressionou mais, nesta sala, do que os cabelos humanos amontoados. É tanto cabelo que, talvez, fosse possível encher um apartamento inteiro.
Nessa hora, a frieza dos números passou a fazer mais sentido e eu, realmente, me dou conta das milhares de pessoas que morreram em Auschwitz.
A vida em Auschwitz
No caminho entre um prédio e outro, um silêncio sepulcral toma conta de Auschwitz.
A única coisa que se ouve por aqui é passo lento e meio arrastado dos visitantes, e a suave voz da guia que acompanha meu grupo – serviço imprescindível para quem quer visitar Auschwitz e entender melhor sua história.
Chegamos a mais um alojamento e, aqui, percebo como era a vida dentro dos muros de Auschwitz.
Nas primeiras semanas de funcionamento, os dormitórios não tinham cama. Todos eram obrigados a dormir sobre uma fina camada de palha, sem o mínimo conforto e privacidade.
Mais tarde, os prisioneiros ganharam beliches de três andares que eram enfileiradas um ao lado do outro.
No corredor, enquanto caminho até o antigo banheiro, vejo a foto de centenas de prisioneiros que não sobreviveram aos horrores da guerra.
Em dois cômodos pequenos há um lavabo e alguns sanitários que, sem divisórias, eram compartilhados por todos. Além disso, eles só podiam ser usados em horários determinados pelo comando nazista.
Algumas áreas dentro de Auschwitz não podem ser fotografadas.
Uma delas é o interior do prédio onde o monstruoso médico Josef Mengele comandou uma série de experimentos com humanos.
O ambiente é pesado, frio e causa muita estranheza.
Em nome da ciência, Mengele e seu grupo mataram gêmeos, injetaram substâncias estranhas em crianças e seguiram uma cartilha de horrores que não parecia ter limites.
Ao lado desse prédio ficava a área de fuzilamento, onde eram punidos e executados prisioneiros revoltados e desobedientes.
Hoje, o muro que ainda carrega marcas de bala se tornou um local de homenagem às vítimas.
A câmara de gás
Os meus passos ficam pesados à medida que a guia vai nos contando mais sobre o lugar da nossa próxima parada: o complexo onde funcionava a câmara de gás que, daqui, foi replicada em vários outros campos de extermínio.
Os princípios que nortearam a ideologia nazista foram o ódio aos judeus, a negação da democracia e do comunismo, e a convicção da superioridade da raça alemã sobre qualquer outro povo. Com a ideia de criar uma sociedade pura, livre de outras etnias, os nazistas perseguiram e mataram milhões de judeus, mas não apenas. Eslavos, russos, ciganos, homossexuais e tantos outros grupos foram capturados, escravizados e assassinados nas câmaras de gás, ou simplesmente fuzilados.
Liderado por Adolf Hitler, o Partido Nazista tomou o poder na Alemanha em 1933, e, desde então, a política de doutrinação da população por meio da propaganda, que mostrava uma realidade disfarçada, passou a ocupar os veículos de comunicação nacionais.
Isso criou, em parte dos alemães, uma forte simpatia com os ideais defendidos pelos nazistas. Em um de seus famosos pronunciamentos, durante o congresso do Partido Nazista de 1937, Adolf Hitler defendeu o seu modelo nada convencional de formação. “Estamos educando uma juventude diante da qual o mundo inteiro temerá. Eu quero uma juventude que seja capaz de realizar violações, e que seja forte, poderosa e cruel”, declarou o ditador.
Em busca de poder, a Alemanha nazista matou, invadiu territórios e levou a Europa e países como Estados Unidos e Japão a se envolverem na maior guerra de todos os tempos. Uma guerra que não apenas mudou as relações políticas, mas que, principalmente, marcou para sempre a história da humanidade.
Originalmente, esse prédio foi construído para abrigar um necrotério e os fornos de incineração.
Mas, como precisavam encontrar uma forma mais rápida de eliminar os judeus, os nazistas começaram a fazer experimentos utilizando o Zyklon B, um potente pesticida capaz de matar um número maior de prisioneiros sem muito trabalho.
Trancados nessa sala fechada e mal iluminada, os prisioneiros eram, aos poucos, sufocados pelo gás que invadia cada canto do ambiente.
Quando o veneno começava a fazer efeito, as pessoas tentavam fugir dos pontos de onde ele saia e, assim, crianças e idosos eram esmagados por causa do pânico que tomava conta de todos.
Em menos de 20 minutos, o gás interferia na respiração e a morte chegava lentamente em forma de sufocamento, crises convulsivas, sangramento e da perda dos sentidos.
Quando já havia passado tempo suficiente para que todos estivessem sem vida, um grupo de prisioneiros que trabalhava no crematório – o sonderkommando – era encarregado de limpar a câmara deixando tudo pronto para o próximo grupo.
Antes de enviarem os corpos para serem queimados, os soldados-prisioneiros verificavam a boca e os dentes de cada vítima em busca de ouro e objetos de valor escondidos.
Depois disso, eles eram incinerados para que não restasse qualquer prova do crime que acabara de acontecer.
Os nazistas chegaram a operar outros quatro crematórios semelhantes a este, só que, antes do fim da Guerra, a maioria foi destruída na intenção de eliminar provas.
O crematório e a câmara de gás desta visita permaneceram praticamente intactos – apenas a chaminé teve que ser reconstruída durante a criação do Museu de Auschwitz-Birkenau.
Ao lado da câmara de gás ficava a sede administrativa do comando nazista que coordenava todos os campos de concentração do modelo Auschwitz.
Hoje, nesta área, há apenas uma forca.
Nela, o primeiro comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, foi executado, em 1947, depois de ter sido condenado à morte pela Suprema Corte Polonesa.
A visita ao complexo de Auschwitz tem, ainda, uma segunda parte, que acontece no campo de Auschwitz-Birkenau, que também é chamado de Auschwitz II.
Por isso, eu sugiro que você leia: Como é visitar Auschwitz-Birkenau.
Como é visitar Auschwitz
Quanto custa
A entrada nos antigos campos de concentração de Auschwitz é gratuita, mas estar acompanhado de um guia é indispensável para que você possa entender melhor tudo o que vai ver aqui.
Você pode contratar um passeio guiado por PLN 85. Consulte os horários dos passeios e as línguas disponíveis.
Quando ir
O complexo de Auschwitz abre às 9h, mas o horário de fechamento varia durante o ano. Nos meses de verão, a visita se encerra às 18h e em dezembro às 14h.
A visita dura cerca de quatro horas.
O clima da Polônia é temperado, com as quatro estações bem definidas. O verão é bem curto, já o inverno é longo e muito frio. Os meses mais gelados vão de outubro a abril, quando os termômetros marcam temperaturas abaixo de zero.
Entre maio e setembro, os dias tendem a ser mais ensolarados, com temperaturas variando entre 20 e 27 graus. O mês mais quente é julho, e o mais frio é janeiro, com temperaturas chegando a menos cinco graus. Eu considero melhor planejar uma viagem para a Auschwitz entre os meses de maio e setembro.
Como chegar
Para chegar a Oświęcim, cidade que fica a 67 quilômetros de Cracóvia, você pode pegar um ônibus da empresa Lajkonik. Ela tem partidas diárias a cada uma hora – das 8h às 21h – nas rotas que fazem parada no Museu de Auschwitz.
De carro, a viagem é tranquila e rápida, já que as rodovias estão em ótimas condições, mas há cobranças de pedágio no trecho saindo de Cracóvia. O museu tem estacionamento gratuito.
O Aeroporto Internacional de Katowice (KTW) é um dos mais movimentados da Polônia. Ele opera voos nacionais e internacionais partindo e chegando de outros países da Europa e é, também, muito usado por viajantes que querem visitar Auschwitz.
O que levar
Não é permitido entrar com sacolas ou mochilas no museu. Se precisar, você pode deixar seus pertences no guarda-volumes. Uma garrafa de água, um lanche para o intervalo e sua câmera fotográfica são indispensáveis. Mas, se preferir, você poderá comprar algo para comer nas lojinhas que funcionam na entrada, perto do estacionamento.
Informações Básicas
Visto
Brasileiros não precisam de visto e o período de permanência é de até 90 dias, podendo ser prorrogado para mais 90 dias.
Documentos
É necessário apresentar um passaporte com validade mínima de seis meses, após a data da saída do país, e com uma página em branco.
Dinheiro
A moeda da Polônia é o złoty, identificado pelas siglas PLN e zł. Para sua viagem, leve euros e troque nas casas de câmbio.
Vacinas
Nenhuma vacina específica é exigida, independentemente do motivo da viagem e da idade do viajante. O seguro viagem é obrigatório.
Seguro viagem
O seguro viagem é obrigatório para todos os países europeus que fazem parte do Tratado de Schengen: a Polônia é um deles.
Sem o seguro, você pode ser impedido de entrar no país. E tem mais: há uma cobertura mínima de EUR 30.000. Portanto, você precisa informar para qual – ou quais – país vai viajar antes de comprar o seguro.
Além disso, nem todos os países têm um sistema de saúde público e gratuito. Na verdade, na maioria deles, viajantes estrangeiros não têm acesso a assistência médica gratuita. Por isso, é muito importante ter o seguro internacional de saúde – também chamado de seguro viagem.
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Você vai notar que existem muitas opções de seguradoras e planos, mas o que você precisa mesmo é de um seguro viagem com no mínimo EUR 30.000 de cobertura para despesas médicas e hospitalares.
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Veja mais dicas da Polônia
Ficou mas fácil planejar sua viagem? Se tiver alguma dúvida, é só deixar suas pergunta nos comentários que eu respondo.
Se preferir, pode falar comigo no Instagram: @altiermoulin. Agora, aproveite para ver outras dicas da Polônia.
Respostas de 24
Parabéns pelas descrições “extremas” vivenciadas. Tenho interesse em conhecer Cracóvia, sei que tudo é um misto da história e de suas percepções mas, confesso que não sei se me disponho a ir ao museu… só em ler, tive sensações desconfortáveis e náuseas.
Muito obrigado, Renata.
Um abraço.
Adorei o posto! Parabéns pelo trabalho. Você escreve e explica tudo muito bem, e as fotos são incríveis. Valeu ?????
Um dos lugares mais tristes que já visitei, mas que é muito necessário para a humanidade.
Um abraço.
Infelizmente, não.
O Museu não oferece esse serviço ainda.
Um abraço.
Boa tarde!!! Tem como contratar um tour que fale português?
Parabéns pelo texto… quando estive lá senti um clima de velório o tempo todo, ma em Birkenau foi onde eu me sentir pior ainda principalmente qdo via as paredes todas escritas com mensagens me lembrava cenas do filme “O menino do pijama listrado”, enfim um lugar extremamente triste mas que todos deveriam conhecer.
Oi, Edmilson.
Infelizmente, o memorial não oferece guiadas em português.
É possível reservar em espanhol pelo site. Talvez ajude.
Veja aqui o livreto em português.
Um abraço.
Olá altiel tem guias que falar português gostaria de visitar auschwitz
Oi, Marcelo.
Muito obrigado. Conhecer Auschwitz é realmente uma experiência incrível e nos faz refletir muito.
Um abraço.
Parabéns pelo post, muito bom mesmo.
Tenho muita vontade de visitar esse lugar e tuas explicações e tuas dicas foram muito valiosas.
Obrigado, Marcelo.
Sim, o seguro é obrigatório para qualquer país da Europa.
Você pode fazer a cotação neste link: https://goo.gl/5gqmzV e usar o código PENAESTRADA5 para ter desconto.
Um abraço.
Olá, Altier.
Ótimo texto e informações.
Precisamos mesmo de seguro para entrar na Polônia? Estarei lá na segunda quinzena de fevereiro.
Obrigado,
Marcelo.
Obrigado, Gabriella.
É exatamente es sensação que tentei passar no texto.
Um abraço.
Amo Hitória e gostei muito, muito mesmo com essas palavras você se sente como estivesse lá parabéns ótima matéria
Muito obrigado, Jaime!
Cara, fenomenal!!!
Viajei até lá com os seus textos, acrescentou-me muito conhecimento. Agradecido!
Eu que agradeço por ler e comentar, Ana Paula.
Gostei bastante da matéria!!!Obrigada por divulgar suas experiências!!!
Obrigado, Matheus!
Muito legal. Gostei bastante da matéria com as fotos.
Sem problemas, Fernanda. 😉
Desculpe ! Realmente, Rudof Hob foi executado. Eu confundi os nomes.
Rudolf Hoss (Hess) nao foi executado, ele morreu em 17 de agosto de 1987 em um suposto suicidio na prisao.