Na margem do Rio Vístula, o bairro judeu de Cracóvia é um destino indispensável para quem chega à cidade. Cheio de bares, cafés e restaurantes descolados, Kazimiers tem um aspecto meio largado, é verdade, mas eu garanto que você vai adorar esse lugar.
No entanto, antes de falar de como é Kazimiers hoje, é muito importante entender um pouco da história desse lugar e das pessoas que vivem aqui.
Neste artigo, eu vou explicar sobre:
O bairro Kazimiers
No início dos anos 1930, a Polônia era o país europeu com o maior número de judeus. Segundo o censo, mais de três milhões de israelitas viviam no país, e, em Cracóvia, eles estavam totalmente integrados à vida da cidade, apesar de se concentrarem nesta área.
Naquele tempo, grande parte dos hebreus ainda se vestia de modo mais tradicional. Os homens usavam solidéus – um pequeno círculo de pano que cobre a cabeça como forma de respeito à presença Divina – ou chapéus.
Pelo mesmo motivo, as mulheres cobriam seus cabelos. No entanto, muitos jovens judeus já começavam a usar roupas e a adquirir costumes modernos.
Invasão nazista
Com a chegada do exército nazista, em setembro de 1939, a realidade dos judeus começa a mudar. Com isso, novas regras passam a vigorar na cidade e, praticamente, todas elas significavam restrições aos direitos do povo que habitava o bairro judeu de Cracóvia.
Comércios foram fechados, profissionais impedidos de trabalhar e todos, absolutamente todos, deveriam usar uma estrela de Davi no braço para indicar sua origem judaica. Era o começo de uma história trágica e sem precedentes.
Os princípios que nortearam a ideologia nazista foram o ódio aos judeus, a negação da democracia e do comunismo, e a convicção da superioridade da raça alemã sobre qualquer outro povo. Com a ideia de criar uma sociedade pura, livre de outras etnias, os nazistas perseguiram e mataram milhões de judeus, mas não apenas. Eslavos, russos, ciganos, homossexuais e tantos outros grupos foram capturados, escravizados e assassinados nas câmaras de gás, ou simplesmente fuzilados.
Liderado por Adolf Hitler, o Partido Nazista tomou o poder na Alemanha em 1933, e, desde então, a política de doutrinação da população por meio da propaganda, que mostrava uma realidade disfarçada, passou a ocupar os veículos de comunicação nacionais.
Isso criou, em parte dos alemães, uma forte simpatia com os ideais defendidos pelos nazistas. Em um de seus famosos pronunciamentos, durante o congresso do Partido Nazista de 1937, Adolf Hitler defendeu o seu modelo nada convencional de formação. “Estamos educando uma juventude diante da qual o mundo inteiro temerá. Eu quero uma juventude que seja capaz de realizar violações, e que seja forte, poderosa e cruel”, declarou o ditador.
Em busca de poder, a Alemanha nazista matou, invadiu territórios e levou a Europa e países como Estados Unidos e Japão a se envolverem na maior guerra de todos os tempos. Uma guerra que não apenas mudou as relações políticas, mas que, principalmente, marcou para sempre a história da humanidade.
Com o avanço das tropas alemãs, a maioria dos judeus que viviam em Kazimiers foi enviada para campos de concentração dentro e fora da Polônia. Incluindo os terríveis Auschwtiz e Auschiwitz-Birkenau.
Todos aqueles que permaneceram em Cracóvia – cerca de 17.000 – foram enviados para o gueto. Cercados por muros construídos no distrito de Podgórze, eles foram forçadamente confinados em moradias pequenas, mal-acabadas e sem conforto. Nesse esquema, era comum que duas ou três famílias compartilhassem a mesma casa.
O muro tinha quatro portões e todos eram fortemente vigiados para que ninguém entrasse ou saísse sem permissão. Com a escassez de alimentos e de cuidados com a saúde, muitos judeus morreram de causas simples como sede, fome, frio e calor.
Judeus voltam para Kazimiers
Com o fim da guerra, em 1945, poucos judeus retornaram para o bairro de Kazimiers. Isso poque, a maioria tinha sido exterminada pelo exército nazista ou morrido por causa das péssimas condições do gueto.
Com o passar dos anos, o espírito empreendedor dos judeus poloneses fez com que o Kazimiers emergisse como um dos mais efervescentes e tradicionais bairros da cidade. É onde gente do mundo todo se conecta com a cultura e com a história judaica.
Hoje, uma visita a esse lugar é indispensável para quem visita Cracóvia. Aqui, ao redor da Plac Noway – uma das áreas mais boêmias da cidade – estão bares, cafés e barraquinhas de comida de rua onde você pode se fartar.
Eu experimentei e adorei o zapiekanka – que não tem nada a ver com a culinária judaica. Ele é um pão aberto com uma cobertura que você mesmo escolhe. Eu comi no Gastro Zapiekanki e pedi creme de espinafre, peito de frango, cogumelos e queijo. Estava sensacional e custou apenas PLN 15.
Nesse mesmo lugar, aos domingos pela manhã, funciona uma feira onde você pode comprar de tudo: de verduras a bijuterias.
Outro lugar muito legal para comer e beber aqui é o Alchemia. Ele funciona num antigo casarão e reúne muita gente bonita e alternativa, especialmente nas noites do final de semana.
Se durante a noite o bairro judeu de Cracóvia é ferveção pura, durante o dia o mais legal aqui são os passeios culturais. Ou seja, visitar as sinagogas, as lojinhas, os cafés e conhecer melhor a cultura judaica, seja por seus símbolos religiosos ou pela culinária.
Nos arredores da Stara Synagoga funcionam bares e restaurantes muito concorridos – e também caros – onde você pode encontrar desde café da manhã até jantar. Um grande ponto positivo dessa região é que foi aqui que começou o bairro judeu de Cracóvia.
Como conhecer o bairro de Kazimiers
Como chegar
Partindo do Centro Histórico, dá para chegar a Kazimiers a pé em uma caminhada de pouco mais de um quilômetro. Se preferir, você pode usar o sistema de transporte público. Os trens elétricos de Cracóvia cruzam as principais avenidas do bairro.
O Aeroporto Internacional John Paul II (KRK), em Cracóvia, é o segundo mais importante do país. Além de conexões domésticas, há partidas e chegadas de voos internacionais nesse aeroporto. Cracóvia é a porta da entrada para quem quer visitar o antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Veja mais informações em: Voos para a Polônia: companhias aéreas e aeroportos.
Quando ir
O clima da Polônia é temperado, com as quatro estações bem definidas. O verão é bem curto, já o inverno é longo e muito frio. Os meses mais gelados vão de outubro a abril, quando os termômetros marcam temperaturas abaixo de zero.
Entre maio e setembro, os dias tendem a ser mais ensolarados, com temperaturas variando entre 20 e 27 graus. O mês mais quente é julho, e o mais frio é janeiro, com temperaturas chegando a menos cinco graus.
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