Quem visita Cartagena, na Colômbia, nunca vai se esquecer das mulheres de roupas mega coloridas que podem ser vistas em cada esquina vendendo frutas e doces. Elas são as palenqueras de Cartagena e carregam consigo uma trajetória muito singular.
A história dessas mulheres começou há séculos, quando a Colômbia ainda era uma colônia espanhola e a escravidão, uma prática comum e socialmente aceitável.
Naqueles tempos sombrios, os negros escravizados que conseguiam fugir se estabeleciam em grupos nos quilombos. Foi assim que surgiu o vilarejo de San Basílio de Palenque, a 58 quilômetros de Cartagena.
No primeiro povoado livre das Américas, eles conseguiram manter muitas tradições africanas. Foi justamente por isso que surgiu o palenquero, língua que tem base no espanhol e em línguas faladas na República Democrática do Congo.
Palenqueras de Cartagena
San Basílio de Palenque fica a cerca de uma hora de Cartagena e ainda é a casa da maioria dessas mulheres.
Elas viajam todos os dias para vender frutas e doces – a maioria feita de coco – para os turistas que desembarcam em Cartagena.
Mas, nem todo mundo sabe o que essas mulheres representam. Para falar a verdade, eu também não sabia.
Mas, alguma coisa me fez olhar para essas mulheres de uma forma diferente, principalmente quando recebi um abraço afetuoso de uma delas, quando o mundo ainda vivia sem o perigo do novo coronavírus.
Anos depois desse encontro, parei um tempo para ler e entender quem são as palenqueras. E isso me fez admirá-las enormemente.
São elas que, com toda simplicidade, preservam a cultura afro-colombiana e em poucos lugares do planeta você vai ver algo igual.
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Essas mulheres despertam todos os dias para lembrar os turistas que é impossível fechar os olhos para tudo que foi feito com a escravização de seus ancestrais.
E isso é feito da forma mais positiva possível, com sorrisos, abraços e doces que carregam parte de suas vidas.
As baianas da Colômbia
Tentando encontrar um ponto de comparação com a nossa cultura, eu arrisco dizer que as palenqueras de Cartagena são as baianas da Colômbia. É que é impossível não associar a figura dessas mulheres à das baianas do acarajé, que tradicionalmente usam vestidos brancos, colares coloridos e sempre têm aquela energia incrível.
Com um monte de histórias semelhantes, os mundos dessas mulheres se encontram numa esquina triste da história da humanidade.
Assim como as baianas, as palenqueras de Cartagena são reconhecidas como Patrimônio Imaterial, mas ainda há um caminho longo a percorrer.
Seja da Bahia ou dos cantos mais escondidos de San Basílio de Palenque, a voz que ecoará para sempre é a mesma: o mundo tem muito o que fazer para reparar o irreparável.
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