Nas encostas do imenso Lago Titicaca, Puno tem um tom avermelhado, resultado conferido por causa das construções que não recebem reboco nem pintura. É nesta região que fica o cemitério pré-inca de Sillustani, um povoado que luta para preservar sua memória.
Era janeiro, fazia frio e eu tinha acabado de chegar a Puno compartilhando o mesmo pequeno espaço na van com quase duas dezenas de viajantes.
Esse é o símbolo de como o Peru precisa melhorar – e muito – o seu sistema de transporte público. Isso fica ainda mais evidente nas cidades menores, como é o caso de Puno.
De Arequipa a Juliaca, que está a menos de 50 quilômetros de Puno, foram somente vinte e cinco minutos de voo – sem dúvidas, a melhor escolha para quem não tem muito tempo de viagem.
Cumprida a primeira parte de minha jornada, era hora de colocar em prática os planos de visitar o pequeno povoado que ainda intriga pesquisadores do mundo inteiro.
Mas, antes de prosseguir com esta história, eu acho importante que você saiba um pouco mais sobre o Lago Titicaca.
Neste artigo, eu vou explicar sobre:
O sagrado Lago Titicaca
Estrategicamente localizado na fronteira entre o Peru e a Bolívia, o Lago Titicaca tem mais de 8.000 quilômetros quadrados.
Ele está a 3.821 metros acima do nível do mar, o que faz dele o lago navegável mais alto do mundo. Além disso, O Titicaca é o segundo maior da América Latina, perdendo apenas para o Lago de Maracaibo, na Venezuela.
Para muitas culturas latino-americanas, o Lago Titicaca é sagrado.
Também por isso, ele é cercado de histórias e mistérios: conta a lenda que foi das águas do lago que emergiu Manco Capac, o primeiro inca e quem deu início à construção de todo o poderoso Império Inca.
Dizem que o nome do lago pode ser traduzido como Pedra do Puma, animal também sagrado para os povos desta região dos Andes. Além disso, há quem diga que o Titicaca tem a forma de um puma correndo.
Quem vive perto do Lago depende quase totalmente dos recursos naturais e nutricionais que ele oferece. São mais de 2.000 espécies de peixes e aves que habitam as águas desse lago que mais parece um imenso mar.
Se, por esse lado ele é uma fonte de sobrevivência, para turistas do mundo inteiro o Lago Titicaca é um atrativo imperdível quando se trata de Peru e Bolívia.
Embora a cidade de Copacabana, na Bolívia, também seja um importante centro turístico, a melhor visão do Lago Titicaca é de Puno.
O povoado de Sillustani
Apesar da maioria dos turistas que chegam a Puno terem como prioridade visitar as ilhas flutuantes do Lago Titicaca, Puno tem, sim, outro lado atrativo.
Sillustani é um sítio arqueológico pré-inca que fica a 45 minutos do Centro da cidade, nas margens do Lago Umayo, e um fato muito curioso sobre o povo que habitava Sillustani, antes da invasão inca, é que ele não enterrava seus mortos.
Em um ritual que durava dias, os corpos eram preparados e colocados dentro de chullpas – torres funerárias feitas de pedra construídas no alto das colinas – sempre em posição fetal.
Isso acontecia porque os colla, o povo original de Sillustani, acreditava que os mortos seriam chamados pelo deus sol para renascer para uma nova vida.
Alguns historiadores dizem que as chullpas foram usadas apenas para sepultar pessoas importantes e autoridades, que levavam consigo joias e outros bens de valor, mas tudo ainda é um grande mistério sem respostas definitivas.
Invasão inca
Quando o Império Inca avançou sobre as terras dos pacíficos colla, o povo decidiu não lutar e acabou sendo escravizado pelos incas. Assim, perderam quase todos os laços com sua cultura original.
Apesar disso, os colla não foram impedidos de realizar seu ritual de sepultamento. É, talvez, por isso que o cemitério tenha resistido a tanto tempo, diferentemente do restante do povoado.
É importante lembrar que os incas eram um exército muito poderoso, formado um povo numeroso e aguerrido, que já havia conquistado grande parte do território que cercava o Lago Titicaca.
Mesmo que tentassem, os colla não teriam muitas chances de sobreviver a um possível embate.
Como resultado de um esforço comunitário para a manutenção do pequeno povoado, a história dos colla tem sido recuperada lentamente nas últimas décadas.
Mas, ainda que todo o processo de resgate histórico tenha avançado, os vestígios da invasão inca jamais poderão ser apagados.
A gente vê isso nitidamente no que restou da arquitetura de Sillustani: a maior e mais imponente torre funerária se diferencia das demais por seu estilo mais elaborado. Assim, fica fácil perceber que os invasores tinham técnicas mais avançadas e arrojadas de construção.
Depois dos incas, Sillustani foi invadida pelos espanhóis que, mais uma vez, impuseram restrições à cultura dos colla – por isso a gente vê cruzes nos telhados das moradias. Porém, toda esta história de invasões não conseguiu fazer com que o cemitério do povoado desaparecesse do mapa.
Hoje, ele é o maior sinal de que Sillustani ainda resiste.
Como visitar o povoado de Sillustani
O povoado de Sillustani fica bem perto do Centro de Puno, a cerca de 45 minutos de carro. Você encontra passeio – com transporte e guia – em uma das agências que funcionam na Calle Lima.
Quando ir
Puno está em uma altitude superior a 3.800 metros e o clima quase sempre é frio, especialmente à noite.
Durante o dia, o sol é quente e, mesmo que você pense que não precisa, deve-se usar chapéu, óculos de sol e protetor solar para se proteger. Durante a alta estação, nos meses de que vão de julho e agosto, quase todos os dias um turista é hospitalizado com queimaduras.
A temperatura média é de oito graus, com máxima de 15, no verão, enquanto a mínima é de um grau no inverno.
Independentemente da época do ano, o clima em Puno sempre será frio e seco. Mesmo assim, fevereiro é o mês ideal para visitar a cidade.
No dia dois de fevereiro, a Festa da Virgen de la Candelaria enche todos os cantos da cidade de fé e de manifestações religiosas. Durante as celebrações podem ser observadas uma grande variedade de danças e outras manifestações culturais de Puno e das cidades ao redor.
Como chegar
Ônibus diários partem de Cusco e de Arequipa com destino a Puno.
A viagem de Cusco a Puno leva entre cinco e oito horas, dependendo da empresa de ônibus. Isso porque algumas param no caminho pegando passageiros, o que atrasa muito a viagem.
Há também os ônibus turísticos, como os da Inka Express. Neles, a viagem começa às 7h30 e tem várias paradas em pontos turísticos. Com isso, o percurso até Cusco é concluído em oito horas.
→ Principais empresas de ônibus no Peru
Se você estiver na Bolívia, há ônibus de Copacabana duas vezes ao dia. De La Paz, a viagem pode ser feita em duas rotas ligeiramente diferentes: a primeira é mais direta, passa por Desaguadero e dura cerca de cinco horas; a segunda é via ferry boat, através do Lago Titicaca e de Copacabana.
O aeroporto mais próximo está a pouco mais de uma hora de Puno, na cidade de Juliaca, e recebe voos de Lima, Cusco e Arequipa.
Definitivamente, essa é a forma mais prática para chegar a Puno. Uma viagem de Lima a Juliaca dura aproximadamente 1h45.
→ Principais companhias aéreas do Peru
De Cusco, há partidas de trem para Puno com a Peru Rail. A viagem de trem corta as montanhas andinas e o vale do rio Huatanay, proporcionando um cenário maravilhoso.
O trem para em La Raya, o ponto mais alto da viagem. Em seguida, ele fica por cerca de dez minutos para permitir que os passageiros saiam para comprar artesanato, água e comida.
Estou com viagem programada para o período de 14 a 20 de novembro, como me preparo para a altitude??
Oi Rose,
Olha o mal de altitude pode te derrubar mesmo se você achar que está preparada para enfrentá-lo. O que quero dizer é que algumas pessoas sentem enjoo, dor de cabeça e um cansaço muito grande. Claro, isso acontece com a minoria das pessoas, mas acontece. Os riscos diminuem bastante quanto você é uma pessoa ativa e que pratica algum esporte.
Para evitar que esses sintomas te deixem mal, eu sugiro que faça uma programação leve principalmente no primeiro dia que estiver em cidades mais altas, acima de 3.500 metros, como é caso de Puno. Além disso, leve remédios que possam te ajudar e beba o chá da folha de coca. Ele ajuda muito, mas tenha cuidado para não tomar demais. Em excesso ele pode causar taquicardia.
Vai dar tudo certo. Viaje com fé.
Um abraço!