Entre Split e Dubrovnik, duas cidades já consagradas do turismo na Croácia, Ston pode ser apenas uma parada de algumas horas ou de dias inteiros.
Pequena, com menos de 2.500 habitantes, a cidade é cercada pela maior muralha da Europa e segunda maior do mundo: originalmente, ela tinha sete quilômetros, mas, hoje, restam pouco mais de cinco.
Protegida por causa de sua produção de sal, Ston viveu – e ainda vive – em uma atmosfera particular: todo mundo conhece todo mundo e receber bem parece ser algo rotineiro na vida de quem ainda mora na cidade.
Neste artigo, eu vou explicar sobre:
Chegar a Ston dirigindo pelas estradas da península de Peljesac foi uma grata surpresa. Essa porção de terra, que se estende 62 quilômetros sobre as águas rasas e mansas do mar Adriático, cria um cenário inspirador, daqueles que a gente tem dificuldade em dizer adeus.
Uma cidade dividida
A cidade que hoje conhecemos é formada por duas cidadelas: Veliki Ston e Mali Ston.
Veliki Ston é maior e mais antiga. Aqui, estão concentradas a maior parte das atrações.
Em poucos minutos de caminhada, eu conheci o Forte Maior, a Igreja de São Blásio e caminhei pelo centrinho sem um destino certo. Essa, sem dúvida, é uma parte que você não pode deixar de fazer.
Aqui, também ficam o Knezev Dvor, o antigo palácio do governo, o palácio eclesiástico – Ston foi um importante centro religioso – e a Igreja de São Nicolau.
Mali Ston fica a mais ou menos um quilômetro de Veliki Ston. Menor e mais nova, aqui fica o porto de onde, historicamente, saíam os navios carregados de sal.
As duas vilas são conectadas pela muralha.
A principal atração de Mali Ston é o Forte Koruma, construído em 1347 para armazenar o sal, o bem mais precioso produzido na cidade.
Conquistas e destruição
Por causa de sua localização privilegiada, Ston sempre foi muito importante. Desde a antiguidade, esse território é habitado e, ao longo dos séculos, se tornou um respeitável centro cultural e religioso.
Dominada pelos romanos, conquistada pelos croatas, a velha Ston ficava em outra área, diferente da que conhecemos hoje. Destruída por um forte terremoto, a cidade original desapareceu em 1252.
Reconstruída e invadida pela República de Dubrovnik, começou a ganhar o contorno atual na primeira metade do século 14.
Ao longo dos anos, guerras e fenômenos naturais afetaram drasticamente a estrutura da cidade. Os bombardeios da Segunda Guerra, em 1944, destruíram várias construções do período romano – incluindo a igreja cristã primitiva de Maria Madalena.
Depois disso, a Guerra da Iugoslávia, entre 1991 e 1995, também deixou marcas profundas. Como se não bastasse, outro forte terremoto abalou Ston e destruiu grande parte da muralha em 1996.
Muralha de Ston
A muralha que cerca Ston é a maior da Europa e a segunda maior do mundo – a primeira é a Muralha da China.
A construção desse poderoso sistema de defesa começou no ano 1333 e foi pensado para guardar as salinas da cidade. É justamente isso que faz a muralha de Ston ser tão peculiar: diferentemente das outras muralhas europeias, ela não foi construída para proteger a cidade, mas a produção de sal.
É que naquela época o sal era um bem precioso, símbolo de riqueza e poder.
Originalmente, a muralha tinha sete quilômetros, mas uma parte foi destruída ao longo dos anos. Hoje, são pouco mais de cinco quilômetros de muros que cercam os morros da península de Peljesac, essa belíssima região banhada pelo mar Adriático.
Para recuperar parte dos danos e para prevenir outros incidentes, toda a estrutura passou por um longo processo de restauro. Graças a ele, hoje a gente pode caminhar em segurança sobre os muros.
Aliás, a sensação de caminhar pela muralha é indescritível. Além de toda a beleza cênica dessa pequena cidade, seu valor histórico incalculável deixa tudo mais especial.
Hoje, a muralha tem 42 duas torres e sete bastiões, a maioria fica em Veliki Ston.
Sal que vale ouro
Como expliquei, Ston é uma cidade que ganhou importância econômica por sua produção de sal. É que as salinas eram símbolo de riqueza e poder, e o risco de que países inimigos tentassem sequestrar a produção de sal era grande.
Para você entender melhor, vou explicar o que aprendi em Ston.
No tempo da República de Dubrovnik, quando essa região era governada por um poder independente do que, hoje, conhecemos como Croácia, um quilo de sal valia o mesmo que um quilo de ouro.
A partir do século 14, a cidade passou a ser protegida e, daqui, partiam navios carregados de sal para abastecer os mercados europeus – especialmente os países bálticos. As coisas funcionaram assim, sob o domínio de Dubrovnik, até 1808, quando Napoleão Bonaparte conquistou todo esse território.
Ainda hoje, a produção de sal em Ston é artesanal. São vários tanques que garantem o sustento das poucas centenas de famílias que vivem aqui.
Apesar disso, apenas uma pequena parte da produção de sal é destina ao consumo humano. Isso acontece porque, há alguns anos, quase todos os tanques foram revestidos com asfalto. Só que eles não sabiam que o derivado do petróleo impediria que o sal fosse usado na cozinha.
Assim, a maior parte do sal de Ston é destinada à indústria.
Um mar de ostras
Outra riqueza de Ston são as ostras – kamenice, em croata. Consideradas uma das melhores do mundo, com alto valor de mercado, elas são produzidas nas águas rasas, calmas e limpíssimas do mar que banha toda a península.
A cada ano, a cidade produz cerca de 500 mil ostras em fazendas locais e, sempre no mês de março, acontece um festival que lota a cidade de turistas e de ex-moradores que retornam para as festas regadas a ostra e vinho, que também é produzido na região.
Um ótimo lugar para experimentar essa iguaria é o Bakus (Rua B. Angeli Radovani, 5). Ele tem um cardápio bem variado de frutos do mar, sua especialidade.
Planeje sua viagem a Ston
Se você estiver indo de Dubrovnik a Split – ou o contrário – faça uma parada aqui. Se tiver mais tempo, vale a pena dormir uma noite na cidade e seguir viagem no dia seguinte.
Eu indico destinar pelo menos um dia inteiro para conhecer Ston – Veliki e Mali – sem pressa.
Aproveite esse tempo para caminhar sobre a muralha, ver o pôr do sol na península, almoçar em um restaurante local, tomar um café admirando as construções da cidade e visitar as famosas salinas.
Como chegar
Ston fica a 55 quilômetros de Dubrovnik e é totalmente possível fazer um bate-volta indo e voltando no mesmo dia – vale muito a pena.
A empresa de ônibus que opera essa rota é a Globtour. A viagem dura cerca de 40 minutos e a passagem custa, mais ou menos, HRK 35.
Split fica um pouco mais longe, a 135 quilômetros. A passagem de ônibus custa cerca de HRK 95 e a viagem dura, aproximadamente, três horas.
Se estiver de carro, tente incluir uma parada em Neum, na Bosnia Herzegovina. É que o território croata se divide em dois e, obrigatoriamente, você vai passar por essa cidade.
Eu explico os detalhes em Neum: as praias da Bósnia e Herzegovina.
Dá para cruzar de ferry de Split até a península Peljesac, mas fica mais caro e a viagem mais longa. Não aconselho.
Quando ir
É possível visitar Ston o ano inteiro, mas, claro, a paisagem muda de acordo com as estações. No verão, entre julho e agosto, a cidade fica mais movimentada. É que além dos turistas que acabam descobrindo a cidade, nesta época, acontece a tradicional colheita do sal.
No mês de março acontece o Festival da Ostra, uma celebração à produção do molusco que cresce nas águas calmas e rasas da península.
Para os atletas, tem ainda a Maratona de Ston. Uma corrida com diferentes categorias – 4, 15 e 42 quilômetros – que passa pelas muralhas que cercam a cidade. Geralmente, a maratona acontece em setembro.
Quanto custa
As muralhas de Ston ficam abertas para visitação diariamente, das 8h às 17h30, e a entrada custa HRK 70, para adultos, e HRK 30, para crianças. O pagamento pode ser feito com cartão de crédito ou na moeda do país. O euro não é aceito.
Apesar de fazer parte da União Europeia, a moeda oficial da Croácia é o kuna, identificado pela sigla HRK e pelo símbolo kn. No Brasil, não encontramos kuna para comprar, então, a melhor opção é levar euros e fazer a troca quando chegarmos lá. O real não é aceito nas casa de câmbio do país.
Onde comer
Nas ruazinhas de Veliki Ston há alguns restaurante e cafés aconchegantes. Eu almocei no Bakus (Rua B. Angeli Radovani, 5), um restaurante especializado em frutos do mar e comi as tradicionais ostras da cidade e um delicioso arroz com camarões gigantes – que custou HRK 115. Mas, claro, há outras opções no cardápio.
Em Mali Ston há alguns restaurantes na região do porto.
Onde ficar
Como Ston é pequena e aconchegante, é fácil decidir onde ficar hospedado. Eu sugiro escolher um hotel em Veliki Ston, que tem mais movimento. Eu separei três hotéis excepcionais: Rooms Sorgo Palace, Apartments Villa Sol e Villa Radić.
Em Mali, você pode ficar no sensacional Hotel Ostrea.
Se estiver com amigos ou em família, alugue um apartamento, como o Olive Garden.
Veja porque você deve conhecer Ston
- Perfeita para quem gosta de história e belas paisagens;
- Tem a segunda maior muralha do mundo;
- As salinas já eram disputadas desde antes do Império Romano;
- A produção de ostras é uma das mais valorizadas da Europa;
- Festas e festivais movimentam a cidade todos os anos;
- Dá para fazer um bate-volta saindo de Dubrovnik;
- Aproveite para ler: Roteiro para a Croácia: o imperdível do país.
Suas matérias são fantásticas. Amo!
Muito obrigado, Nikki.
Um abraço.
Fiquei fascinada, pelo lugar, pela matéria e pelo site. Simplesmente um roteiro de viagem pronto. Parabéns Altier!! É simplesmente incrível.
Que maravilha, Gilmaria.
Bom que você já sabe por onde começar. 🙂
Um abraço.
Só conheci a Croácia através de algumas redes sociais e lendo este post me deixou com mais vontade de viver essa experiência. Parabéns pela matéria. Muito bem explicada.
Valeu, Eduardo.
Anote aí essa dica para quando for visitar a Croácia. 😉
Um abraço.
Perfeito seu relato! Vontade real de conhecer
Valeu, Rodrigo.
Foi uma descoberta realmente sensacional. Tem muita coisa boa nessa cidadezinha.
Um abraço.
Excelente matéria! Parabéns!
Estive na Croácia mas não tive a oportunidade de conhecer Ston.
Espero poder fazê-lo em breve!
Vale muito a pena, Roger.
Pode colocar no roteiro da próxima viagem. 😉
Um abraço.
Cada vez melhor e encantador
Obrigado, Flavio. 🙂
Muito bom!
Obrigado, Fabio.
Um abraço.