Como é fazer o trekking em Torres del Paine: depoimento de uma aventureira

Atualizado em 10 de outubro de 2022 – 5 min de leitura

Quésia Cunha é uma daquelas viajantes apaixonadas por esportes radicais. Em sua bagagem, coleciona aventuras na Argentina, na Bolívia, nos Estados Unidos e em muitos outros cantos do mundo. Isso sem falar no memorável circuito do Himalaia, no Nepal, onde caminhou por dias seguidos aos pés da mais alta montanha do mundo, o Monte Everest. No Chile, Quésia fez o trekking em Torres del Paine.

Foi logo depois do incêndio que devastou boa parte desse Parque Nacional Torres del Paine, em 2011. O incidente foi causado por um viajante que, assim como ela, estava fazendo o Circuito W, um dos preferidos de quem escolhe caminhar pelo Parque.

Neste artigo, nossa amiga aventureira conta como foi enfrentar o frio e os fortes ventos de Torres del Paine. Assim, conquistou o privilégio de estar mais perto da beleza estonteante desse lugar.

Quésia viajou acompanhada de dois amigos. Lendo esse relato emocionante e encorajador, você se sentirá inspirado a deixar um pouco a vida urbana e mergulhar na natureza.

CIRCUITOS ‘W’ E ‘O’

Torres del Paine é muito procurado por amantes do trekking. No Parque, existem várias trilhas de curta distância que qualquer pessoa pode fazer, mas há dois circuitos clássicos que exigem preparação e organização específicas.

O Circuito W tem 76 quilômetros e pode ser feito entre quatro e seis dias. Ele passa por três atrações muito populares do Parque: o Glaciar Grey, o Vale Britânico e o Mirante Torres. Ele ganhou esse nome porque o trajeto se assemelha com a letra “W”.

O Circuito O tem quase quase 93 quilômetros, é circular e contorna o Macizo de Paine Grande. Para concluir o percurso são necessários, no mínimo, oito dias. Além de passar pelos mesmos lugares do Circuito W, ele chega a outros pontos mais distantes, como a Lagoa Dickson, o Glaciar Los Perros e o passo John Garner.

Neste artigo, você vai ler:

Dia a dia do trekking em Torres del Paine

Primeiro dia

Depois que entramos no Parque, pegamos um transfer que nos deixou no ponto do abrigo chamado Torres. Nós havíamos reservado uma noite aqui, mas, em função da mudança de planos dos últimos dias, tivemos que caminhar por duas horas até o abrigo El Chileno.

Trekking em Torres del Paine

O El Chileno é simples, mas muito aconchegante. Contornado por janelas de vidro, ele proporciona uma visão permanente das imponentes torres de granito a desafiar os céus. Como os dias na Patagônia são longos, a visão das montanhas ao entardecer é um espetáculo com cores que se alternam de forma harmoniosa, mágica e emocionante.

Trekking em Torres del Paine

Vários montanhistas, turistas experientes e amadores se cruzam nesse ambiente democrático, onde todos têm algo em comum. Todos tem a coragem de sair dos padrões urbanos e permitir-se estar em contato com a natureza de forma intensa. À noite, fizemos uma refeição bem típica de mochileiros e nos preparamos para o novo dia.

Trekking em Torres del Paine

Segundo dia

No segundo dia do trekking em Torres del Paine, começamos a subida para o mirador das torres às 8h30. O tempo estava um pouco nublado, mas sem comprometer a impressionante beleza do lugar. Por todo o caminho ouvíamos o som do rio espumoso que serpenteava todo o trecho. Árvores imensas e elegantes com um verde intenso deixavam o caminho úmido e levemente perfumado.

A última etapa da trilha exigia um pouco mais de esforço. Principalmente para quem, como nós, começava a expedição. No entanto, todo cansaço foi recompensado pela inigualável visão das torres sendo adorada pelo lago verde turquesa a lhe prestar eterna admiração.

Trekking em Torres del Paine

Depois de um tempo admirando toda essa beleza, descemos até o lago nos sentindo privilegiados e emocionados. Estávamos tão perto de tantos elementos que se harmonizam naquele ambiente. Enquanto olhávamos admirados, um bloco de gelo se desprendeu do alto e seu estrondoso barulho se fez ressoar por todo o vale.

Nesse momento, nos esquecemos do frio intenso e ficamos emocionados com o som que reverberava a vivacidade da montanha. Depois de muitas fotos começamos a descida de forma tranquila para não requerer muito esforço.

Antes das 14h, saímos do El Chileno e pegamos um atalho rumo a Los Cuernos. Passamos por uma trilha menos íngreme e mais estreita. À medida que andávamos, íamos conversando e trocando informações sobre a vida, sobre a natureza e tudo mais. Depois de mais ou menos quatro horas de caminhada, o cenário fica deslumbrante com a presença constante do Lago Nordenskjöld.

Trekking em Torres del Paine

Esse imenso lago contorna e adorna a montanha se destacando na paisagem pela cor e beleza indescritível. Éramos recepcionados por ventos fortíssimos que demonstravam a força da natureza, seu dinamismo e movimento.

Depois de oito horas de caminhada, eu estava sentindo um cansaço extenuante. Sentados em frente a uma imensa janela de vidro, aconchegados e apreciando uma imponente montanha coberta de gelo a derramar-lhe em abundante beleza revigorou nosso corpo, alma e coração.

Depois de uma sopa acompanhada por conversas amenas, descansamos os músculos e retivemos na alma a experiência desse contato com a natureza.

Terceiro dia

Acordamos cedo e andamos por mais de oito horas até chegarmos ao vale francês. Um caminho perfeito, com vistas do lago e da belíssima montanha Paine Grande. As primeiras quatro horas foram intensas até chegarmos ao acampamento italiano.

Ao chegarmos ao vale francês, com um dia lindo de muita luz e céu limpo, ficamos deitados e acomodados na rocha apreciando a imensa montanha gelada com seu glaciar branco e azul e um fio de água a escorrer sem pressa com sons que ecoam por todo o espaço.

Trekking em Torres del Paine

O lugar é como um anfiteatro natural, com montanhas imensas, diferentes e lindas, e nós estávamos ali não por sermos mais fortes ou mais abastados financeiramente, mas porque tínhamos escolhido caminhos de coragem e fora dos padrões do conforto.

Tínhamos aceitado encarar as dificuldades que nos ensinam sobre limites, privações, beleza e conhecimento da natureza. Almoçamos ali olhando as montanhas, sorvendo sua paz tão boa de sentir.

Quando retornamos, ao passarmos pelo lago, brincamos com Marcelo, que aceitou o desafio de entrar pelado no gelado lago Nordenskjöld por míseros dez dólares – que ele nunca verá. O frio era intenso e eu não sabia como aquela figura friorenta estava aguentando depois de ter se molhado na água gelada.

Trekking em Torres del Paine

Retornamos ao abrigo Los Cuernos para mais uma noite e jantamos mais uma vez olhando para as montanhas cúmplices de todos os montanhistas. Escolhemos comer a refeição servida no abrigo com um excelente vinho chileno em homenagem ao lindo dia que tivemos.

Uma entrada de sopa de cereal e pão caseiro. Arroz temperado e peito de frango ao molho de champignon, finalizando com uma torta de limão com glacê. Foi um jantar fabuloso e digno para comemorar a luz e a perfeição das montanhas.

Quarto dia

Saímos às 8h rumo ao abrigo Pehoe. Após o acampamento italiano, tivemos noção do estrago causado pelo incêndio, resultado da atitude irresponsável e, aparentemente, não intencional de um jovem israelense que acampava nas imediações: ele teria colocado fogo em um papel higiênico e logo as chamas se espalharam de forma incontrolável pelo parque.

Para nossa sorte, o charmoso abrigo Pehoe permanecera de pé no meio de uma grande destruição. O abrigo tinha sido reaberto uma semana antes e ainda operava de maneira precária. Almoçamos ali mesmo enquanto esperávamos a chegada do catamarã.

O cenário que encontramos foi decisório na avaliação e na mudança de planos: não seguiríamos adiante com o nosso trekking em Torres del Paine, pois a devastação se estenderia até a parte norte do parque sendo, inclusive, desaconselhada a permanência no local já que alguns abrigos estavam fora de operação.

Ao meio dia, pegamos o Catamarã para Pudeto em um lindo percurso de 30 minutos. Em seguida, duas horas de ônibus para Puerto Natales. A cidade nos pareceu charmosa e encantadora, mas não podíamos desfrutar desse encanto sem comprometer mais ainda nosso tempo.

Sobre o Autor

<a href="https://www.penaestrada.blog.br/author/altier/" target="_self">Altier Moulin</a>

Altier Moulin

Sou jornalista, capixaba e apaixonado pelo universo viajante. Sempre gostei de contar histórias e de extrair do cotidiano um valor que muitos não percebem. Quando criança, sonhava em viajar pelo mundo e, já adulto, isso virou um propósito de vida.

comentários

13 Comentários

  1. Andrea

    Olá Altier

    vou para Torres Del Paine em janeiro com marido e filho de 5 anos.

    Vamos ficar em algum hotel dentro do parque e alugar carro.

    Perguntas
    Acha precisamos de guia ?
    Alguma trilha mais leve pra fazer com criança ?
    Com certeza a de 5 horas até as torres não vamos fazer.
    Mas não queria ver as coisas de carro e sim a pé
    O que vc acha que consigo fazer ?
    Muito obrigada

    Responder
    • Altier Moulin

      Oi, Andrea.

      A escolha do guia dependerá do que forem fazer.
      Sim, há várias caminhadas possíveis para crianças. Como vão alugar um carro, dá para explorar bastante.
      É difícil dizer o que fazer, porque não sei qual hotel você estará.
      Mas algumas caminhadas básicas, como a do Lago Grey, são fáceis porque dá parar o carro perto.
      Há muitas opções nesse estilo. Fique tranquila!

      Um abraço.

      Responder
  2. Ângela Camila

    Bom dia!

    Muito incrível o lugar!
    To com as passagens compradas para visitar Torre Del Paine em setembro/2018, mas com um pouco de receio de fazer o circuito W sozinha…
    alguém pretende ir?

    Responder
  3. Flávia Condé

    Boa noite!
    Aquela foto bem próxima das torres, você tirou fazendo qual trilha?
    Qual dos dias do seu roteiro foi?
    Parabéns pelo post!! Creio que vai me ajudar muito quando eu for!

    Responder
  4. Marilac

    Olá
    Em outubro/novembro estarei em El Calafate e pretendo ir até Torres Del Paine e fazer passeio de um dia com pernoite Sabe me informar sobre deslocamento?

    Responder
    • Altier Moulin

      Infelizmente, não tenho esta informação, Marilac.

      Responder
  5. Adriane

    Oi, comecei a pesquisar e estou muito em dúvida. Esses abrigos que você cita, são para armar barraca ou são hospedarias mesmo? Vocês viajaram com barraca? Eu estou com duvidas. Se puder me ajudar. Fora aqueles hotéis carisssimos dentro do parque e acampar, existem outras opções?

    Responder
  6. Andreia

    Olá Altier,
    No meu roteiro que farei a Calafate e Ushuaia em Agosto/17, estou planejando incluir o passeio full day a Torres del Paine. A minha primeira opção é alugar um carro a partir de El Calafate, no entanto, não sei como são as condições das estradas nesta época do ano.
    Obrigada,
    Andreia

    Responder
  7. katia m b mello(kaka)

    Se ja lhe admirava agora muito mais,parabens,que seja muito feliz vc merece,DEUS estara sempre com vc e seus parceiros de viagem. mande sempre fotos adoreiiiiiiiiiiiiiiiii.mil bjs

    Responder
  8. ana dilla

    Muito lindo este lugar! altas paisagens!! Parabéns aos trilheiros aventureiros!!

    Responder
    • Altier Moulin

      Ei Ana,

      Realmente o lugar é sensacinal.

      Um abraço!

      Responder

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