A poucos quilômetros de Florianópolis, três cidades se organizaram para nos proporcionar uma experiência única. Durante o verão, Laguna, Garopaba e Imbituba já são muito procuradas por turistas que lotam suas praias. No resto do ano, elas podem ser visitadas com mais calma, sem aquele excesso de gente por todos os lados. E, ainda dá para ver o fenômeno das baleias em Santa Catarina.
Foi isso que eu descobri com a Rota da Baleia Franca, um roteiro novinho em folha. Como o nome indica, foi criado porque nos meses de julho a novembro, dezenas de baleias francas vem para cá. Elas escolhem as enseadas dessa região para terem seus filhotes e amamentarem. Isso antes de voltar para a região da Antártica, onde se alimentam.
Essas baleias são tão dóceis que chegam bem perto da praia. Por isso, a gente consegue vê-las de longe, da areia mesmo. Toda essa região, hoje, é protegida ambientalmente justamente por causa dessa espécie. Esse espetáculo não acontece em nenhum outro lugar do Brasil.
Mas, infelizmente, as coisas nem sempre foram assim. Durante muito tempo, as baleias francas foram caçadas e mortas por que, delas, era extraído o valioso óleo de baleia. Esse óleo era usado como argamassa nas construções e como combustível das lamparinas que iluminavam as cidades.
Eu conversei com alguns pescadores de Garopaba e conheci o Seu Cunha, que já soma os seus 70 anos. Ele me contou que chegou a participar da pesca artesanal da baleia, quando isso era uma prática comum por aqui.
Já seu Alcino, que é dono de embarcações de pesca na Praia da Ferrugem, conta que chegou a sair para caçar o animal, mas que depois de ter sido surpreendido pela baleia, mudou de ideia.
“De repente, aquele bicho enorme chegou perto do barco e, por pouco, não virou a embarcação. Isso foi na década de 1970 e, depois disso, eu nunca mais entrei no mar para caçar baleia”, lembra.
Aqueles eram outros tempos, com outras necessidades e, por sorte nossa e desses grandalhões do mar, a caça das baleias é proibida no Brasil desde 1934, embora sejam encontrados registros de que elas tenham sido perseguidas até a década de 1980, quando a fiscalização aumentou.
Rota da Baleia Franca
A baleia franca vive cerca 80 anos e há registros de animais que nasceram aqui e que, depois, voltaram para ter seus filhotes em águas brasileiras. Elas escolhem essa região por causa da temperatura mais amena, mas também por que, em águas mais rasas, seus predadores naturais, como as orcas e os tubarões, não chegam.
A gestação da franca dura 12 meses e a fêmea dá a luz um bebê a cada três anos. Ele nasce com quase cinco metros, pode pesar até cinco toneladas e bebe quase 300 litros de leite por dia. Quando estiver adulto, ele poderá pesar até 60 toneladas – o equivalente a três ônibus -, e medir até 18 metros.
A baleia franca é considerada a quinta maior espécie do mundo, atrás das baleias azul, fin, da Groelância, e da sei. A jubarte, muito comum no litoral brasileira, vem logo depois da franca.
Todas as baleias nascem com calosidades brancas na cabeça. Elas são como impressões digitais únicas e servem para identificar cada bicho.
Tudo isso eu aprendi aqui, na Rota da Baleia Franca, quando visitei o Instituto Baleia Franca, que fica em Garopaba, e o Projeto Baleia Franca, em Imbituba. Essas duas organizações lutam pela preservação da espécie, e trabalham para educar turistas e moradores sobre a importância de cuidar das praias e das cidades.
O avistamento de baleias
Eu já vi baleias em várias partes do Brasil e até no exterior, como eu conto em: Como é avistar baleias em Abrolhos e Observação de baleias em Vitória, por exemplo. Só que, em todos esses lugares, as baleias apareceram a quilômetros da costa, sendo preciso navegar bastante até encontrá-las.
Aqui, na Rota da Baleia Franca, a gente vê esses gigantes do mar com os pés na areia, a poucos metros. Isso é um espetáculo, algo que me fez sentir um privilegiado.
É verdade que não é tão fácil assim ver as baleias em Santa Catarina. É que este ano, o número de animais foi bem menor que o do ano passado: em 2016, foram registrados 63 baleias, e, em 2017, apenas 36. Um dos motivos dessa diminuição, segundo especialistas, é o aquecimento global.
Mas as francas não me desapontaram e apareceram várias vezes. Me lembro que, a primeira vez que uma delas apareceu, estávamos dentro do ônibus e todos quiseram descer para ver e fotografar mãe e filhote nadando tranquilamente. Depois dessa aparição, vieram muitas outras. Eu, inclusive, almocei na Praia do Rosa, contemplando duas delas bem na frente do restaurante.
Os melhores lugares para ver baleias em Santa Catarina são a Praia da Gamboa, em Garopaba, o Cabo de Santa Marta, a Pedra do Frade e a Praia do Gi, em Laguna, além da Praia da Ribanceira, em Imbituba.
Para achar a baleia, o ideal é procurar o esguicho: o ar quente da respiração pode subir até três metros de altura. Ela respira a cada cinco minutos, mas pode ficar submersa por até 20. Então, fixe seu olhar no horizonte que vai ter baleia sim, senhor.
Uma ótima dica é contratar um guia para percorrer contigo todos esses lugares, já que a comunidade se comunica indicando um ao outro onde elas podem ser vistas.
Além do Brasil, a baleia franca também aparece na África do Sul, na Argentina e nas ilhas da Nova Zelândia, por exemplo. Uma espécie semelhante vive no hemisfério norte, mas nenhuma delas cruza a linha do Equador.
Como visitar a Rota da Baleia Franca
Quando ir
As baleias aparecem no litoral catarinense entre julho e novembro, mas os melhores meses para o avistamento são agosto e setembro.
Quem leva
A Casa Verde é especializada nesta região e pode lhe receber muito bem, organizando tudo o que você precisa. Se quiser contratar apenas o guia, eu indico o Julio César. Ele tem uma kombi – apelidada Kombaleia – que faz esse roteiro. O pessoal do Sem Fronteiras, uma empresa de receptivo de Laguna, também pode lhe conduzir na tarefa de ver baleias em Santa Catarina.
Como chegar
A primeira cidade da Rota da Baleia Franca, Garopaba, fica a 90 quilômetros de Florianópolis, e chegar aqui de carro é fácil. A viagem é feita pela BR 101, que está duplicada, bem sinalizada e em bom estado de conservação. De ônibus, a Santo Anjo é a empresa que faz esse trajeto. O aeroporto mais próximo fica na cidade de Jaguaruna, e recebe voos da Azul e da Latam.
Onde comer
Eu recomendo – muito mesmo – que você vá almoçar no Geraldo Restaurante, em Laguna. Além de ter uma vista sensacional para a entrada da Lagoa do Imaruí, o sabor dos pratos servidos aqui jamais sairá de sua memória. Só para você ter uma ideia, eu experimentei casquinha de siri, linguado com alcaparras e – o meu preferido – camarão com catupiry.
Na Praia do Rosa, em Imbituba, eu lhe aconselho almoçar no Restaurante Casarão, que tem um deque de frente para a praia e serve pratos excelentes. Uma boa opção é pedir peixe ou frutos do mar, já que eles chegam fresquinhos à sua mesa. Também em Imbituba, o Restaurante do Zequinha é muito tradicional e serve uma excelente comida. Aqui, eu provei a ova de tainha.
Não deixe de provar a cerveja local, a Phare. Ela tem uma versão chamada Baleia Franca, uma homenagem aos filhotes que nascem nessa região.
Só vi sua resposta agora! Fiz exatamente isso e foi perfeito! Pretendo voltar e passar mais tempo em Laguna.
Muito obrigada e um abraço!
Muito legal, Ligia. 🙂
Pena que em Laguna semana passada os pontos turísticos estavam todos fechados. Inclusive o farol de Santa Marta.
Que pena. Neste período isso será muito comum.
Vai ter que voltar. 🙂
Um abraço.
Olá! Que maravilha de roteiro! Tenho uma semana em julho pra ir. Vc acha que é melhor fazer uma cidade de base ou passar um pouco em cada uma das três? E, neste caso, alguma com maiores atrações? Obrigada, um abraço!
Oi, Ligia.
Eu passei um pouco em cada uma e gostei bastante. Isso é ideal se quer explorar bem o que há de bonito aqui.
Um abraço.