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Comunidade de Coroca: uma rica experiência ribeirinha no Pará

Atualizado em 10 de janeiro de 2024 – POR ALTIER MOULIN

Comunidade de Coroca

O Pará é um dos maiores estados brasileiros, com um território que supera o de países como África do Sul e Colômbia. Nesta imensidão verde cortada por milhares de rios, é, também, por meio deles que a vida se desenvolve. Eu vivenciei um pouco disso na Comunidade de Coroca, a poucas horas de barco de Santarém, principal cidade do oeste paraense.

Navegando pelo Rio Tapajós, que se encontra com o Amazonas e forma uma imensidão de água que parece o mar, a viagem é encantadora: a gente quase não consegue ver a outra margem do rio e, para quem vê a cena pela primeira vez, ela é, no mínimo, curiosa.

Depois de quase quatro horas, o barco chega a uma praia do Rio Arapiuns, na localização exata onde a gente pode explorar a região, acompanhado de monitores que são moradores da Coroca. É assim que começo a experimentar o turismo comunitário e um pouco da vida ribeirinha.

Comunidade de Coroca

Também é possível chegar à Comunidade de Coroca partindo de Alter do Chão, outra região de praias de rio que ficou muito famosa, mas isso eu explico mais para frente.

A Comunidade de Coroca

A Comunidade de Coroca, que antes era chamada de Vila Coroca, fica na margem esquerda do Rio Arapiuns. As cerca de 20 famílias que vivem nesta terra fazem parte de um programa de integração de comunidades ribeirinhas com o turismo em áreas protegidas.

A ideia é preservar o estilo de vida das comunidades de forma que os moradores sejam capazes de gerar renda com o que eles têm ao alcance das mãos: toda a natureza da Amazônia Brasileira. E isso eles sabem fazer muito bem não é de hoje.

A Comunidade de Coroca se formou na década de 1920 com apenas uma família, a do casal Manoel Santos e Maria Pereira. O lugar não tinha nome, apenas o morador que era chamado de Coroca, e as pessoas passaram a conhecer o lugar como Coroca.“, contou, certa vez, Manoel Regis Vieira, pescador e coordenador da colônia de pescadores do Coroca. Entretanto, há quem diga que a origem do nome tem a ver com pássaro Anu-Coroca.

Hoje, a comunidade tem escola, igreja – a Igreja de Santo Antônio de Pádua, de quem o Seu Corora era devoto –, água encanada, luz, telefone e uma estrutura que recebe bem o turista.

Além da praia, que na verdade é apenas um ponto de embarque e desembarque, a gente pode conhecer como é feita a produção de mel, visitar a loja de artesanato feito com a palha do tucumanzeiro, palmeira nativa da região, e se encantar com o lago onde vivem centenas de tartarugas da Amazônia, espécie que já foi gravemente ameaçada de extinção.

Para fechar a conta, o restaurante serve almoço típico, com peixes como tambaqui e galinhada, e a gente ainda pode descansar no redário. Ficou curioso? Eu vou explicar como é cada uma das visitas a partir de agora.

O que fazer na Comunidade de Coroca

Quando estive na comunidade, estava com um grupo de, mais ou menos, 25 pessoas. Então, eles nos dividiram em três subgrupos e, assim, todos tivemos mais proximidade com os monitores, tempo de sobra para conhecer tudo com calma e espaço para fazer perguntas.

No mapa acima, você pode ver as distâncias e ter uma ideia melhor da localização da Comunidade de Coroca.

Produção artesanal de mel

Caminhando para dentro da mata, a apenas poucos passos da praia, a gente começa a ver as caixas onde são produzidos o mel da comunidade. Grande parte do produto vem das abelhas jandaíra, que é inofensiva para humanos porque não tem ferrão.

A produção não é grande, dá para contar quantas caixas a gente vê pela trilha, mas o mais legal é quando o guia abre uma das caixas e nos mostra como é a colmeia por dentro. Protegidas por um vidro, que mantém as abelhas seguras e a temperatura lá dentro sem alteração, a gente aprende mais sobre elas.

A abelha jandaíra é mais seletiva. Ela coleta néctar apenas de plantas mais altas, como a copaíba e a andiroba, por isso que o mel dela é um mel de qualidade, super suave – não é aquele doce ardente – e elas costumam fazer o mel dentro em pequenos potezinhos, como um ovo de codorna. Então, ela não produz favo“, explicou Orimar Pereira, meu guia nesta pequena expedição.

Quem quiser provar do mel, ele é vendido na comunidade a partir de R$ 5.

Artesanato de folha do tucumanzeiro

Os Trançados do Arapiuns, o nome do artesanato feito pelas comunidades do Rio Arapiuns, são reconhecidos pela beleza e pela forma que são sustentavelmente produzidos.

A palha que serve de base para a produção de bolsas, chapéus, cestos e tudo mais vem da folha do tucumanzeiro, uma palmeira nativa muito comum na região. Seca, ela tem uma cor única, amarelada, e para conseguir outras tonalidades, os artesãos usam outras plantas para tingir a palha.

Comunidade de Coroca

Assim, eles conseguem criar um colorido incrível que é trabalhado em detalhes para dar forma a peças que encantam os olhos e que são úteis e duradouras.

Na lojinha, a gente aprende um pouco deste processo e pode comprar o que nos agradar, mas lembre-se de que o pagamento deve ser feito em dinheiro.

Lago Coroca

Cruzando a praia, do outro lado do restaurante, fica o Lago Coroca, que também é conhecido como Lago das Tartarugas. Ele não tem este apelido por acaso.

É que, com o apoio do Ibama, a comunidade cria centenas de tartarugas da Amazônia, espécie que já esteve na lista de animais mais ameaçados de extinção no Brasil, mas que, hoje, graças a projetos como este, tem seu futuro protegido.

Comunidade de Coroca

Elas são muitas, muitas mesmo, e como já estão acostumadas com a presença humana, se aglomeram perto da pequena balsa que nos leva um pouco mais distante da margem para alimentá-las. É nesta hora que a gente vê de pertinho como elas são grandes e lindas.

Comunidade de Coroca

Mais recentemente, depois que atingiram a fase adulta, as tartarugas começaram a se reproduzir na área do lago: na frente, ele é cercado por um muro e, na parte de trás, pela mata. Assim, acompanhadas de perto pelos cuidadores, as tartarugas da Coroca representam segurança para a espécie e atração para nós, turistas.

Só que, como você pode imaginar, não é permitido nadar no Lago e nem tocar nos animais. Na Coroca, a gente só observa e respeita o espaço sagrado da natureza.

Restaurante de comida regional

Logo que a gente desembarca na praia, já dá para ver o Restaurante Pés na Areia. Seguindo o padrão da comunidade, ele tem a simplicidade necessária para completar a nossa experiência em uma comunidade ribeirinha real, que se organizou para nos receber e apresentar os segredos da Amazônia.

O restaurante tem refeições a partir de R$ 30 e, geralmente, são servidos dois tipos de peixe da região e galinha caipira, acompanhada de arroz, farofa e salada.

História de uma ribeirinha

Depois de conhecer a Comunidade de Coroca, o barco navegou um pouco mais até a Ponta Grande, um banco de areia que emerge no período menos chuvoso, formando uma ilha de areia branca, leve e com praias perfeitas para a gente relaxar sem pressa – e sem a mínima vontade de voltar para casa. Foi nesta ilhota que tive um encontro muito especial.

Comunidade de Coroca

Eu estava tomando banho e, de repente, vi uma mulher se aproximando sozinha com sua canoa. Era Elenira. Ribeirinha e moradora da Comunidade São Miguel, ela navega entre as praias do Rio Arapiuns para vender o artesanato que produz.

Herança que passou de sua avó, para as tias e, por fim, para ela, o trabalho trançado com a folha do tucumanzeiro tem personalidade e, para mim, um sentido muito especial, porque foi a própria Elenira que me ensinou os segredos de sua arte.

Comunidade de Coroca
Foto: Silvio Oliveira

A gente vai no mato e tira crajiru, capiranga… isso é para pintar a palha. Cada cor é uma folha que a gente ferve junto com a palha“, explicou orgulhosa do que faz.

Criada pelas tias – ela me contou que perdeu a mãe muito cedo –, Elenira é apenas uma das muitas artesãs que produzem e vendem seu trabalho nas praias fluviais do Pará, e foi com ela que consegui me conectar com a verdade do lugar.

Sua comunidade, a São Miguel, ainda não tem a mesma estrutura da Coroca, por isso ela precisa remar sozinha sob o sol quente para ganhar seu sustento.

Planeje sua visita à Comunidade de Coroca

Quando ir

Dá para visitar a comunidade o ano inteiro, mas o melhor período é o verão amazônico, que vai de julho a dezembro. Nesta época do ano, o volume dos rios fica baixo e, assim, aparecem várias praias e ilhotas perfeitas para banho.

Esta é, também, a estação mais quente, com pouca chance de chuva constante. Então, é bom preparar a mala com roupas leves e abusar do protetor solar.

Como chegar

Saindo de Santarém, é fácil conseguir um barco no Terminal Fluvial Turístico, que fica na avenida principal, na orla do Rio Tapajós. A viagem dura cerca de quatro horas, mas em lanchas mais rápidas o tempo pode ser menor.

Quem estiver em Alter do Chão, pode contratar o passeio com a Associação de Turismo Fluvial de Alter do Chão (Atufa). A viagem dura cerca de 3h30.

Quanto custa

O valor cobrado fica em torno de R$ 250 por pessoa, e inclui o transporte, as visitas na comunidade e o almoço.

Este passeio dura o dia inteiro. A saída de Santarém é por volta das 9h e o retorno é só à noite, por volta das 20h.

Onde ficar

Você também pode passar a noite nesta pequena e especial parte da Amazônia. A melhor opção é a Casa Coroca, uma casa completa que acomoda bem até três pessoas.

Comunidade de Coroca
Foto: Casa Coroca

Ela fica perto do Lago Coroca e quem se hospeda nela tem todo o apoio das famílias da comunidade: você pode contratar cozinheiras e serviços de lavanderia, por exemplo.

Eles também organizam todo os outros detalhes de sua viagem, como transporte de chegada e partida e passeios para conhecer outras comunidades e praias do Rio Arapiuns – que só aparecem durante o verão amazônico.

Comunidade de Coroca
Foto: Casa Coroca

Além da casa, você pode ficar em uma pousada, na casa dos ribeirinhos ou até mesmo experimentar como é passar a noite em um redário.

Para saber mais, sugiro que você dê uma olhada nos posts da Sylvia Leite, do blog Lugares de Memória, e do Silvio Oliveira, que também tem o perfil @silviotonomundo no Instagram.

Veja mais sobre o Pará

Ficou mais fácil planejar sua viagem? Se tiver alguma dúvida, deixe sua pergunta nos comentários que eu respondo.

Se preferir, pode falar comigo pelo Instagram: @altiermoulin. Agora, aproveite para ver outras dicas do Pará.

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