Nas Américas, um dos pontos onde a presença do homem sempre será vulnerável é a Ilha de Hornos, o pedaço de terra mais ao sul do planeta.
Essa ilha é mais austral do que o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, e do que a última ilha da Nova Zelândia. Depois dela, não há nenhuma porção de terra, a não ser a gelada e misteriosa Antártica, a 964 quilômetros.
Mas o que nos faz desejar conhecer um lugar assim, tão longe de tudo?
A verdade é que todo viajante é fascinado por extremos e por marcos que representam a superação de limites. Todos queremos chegar a terras distantes, conhecer a montanha mais alta, nadar no rio mais bonito, visitar as praias mais charmosas e experimentar as comidas mais exóticas.
Alcançar os pontos mais distintos do planeta é o que tem levado, durante milênios, o homem a desafiar os seus próprios limites. Com essa motivação, os antigos navegadores ousaram descobrir novas terras. E, assim é comigo e com você, que nos aventuramos por um mundo cheio de surpresas.
Neste artigo, eu vou explicar sobre:
Grande Mar de Drake
Nessa região, onde se acreditava existir um continente tão grande que era impossível contorná-lo, está um dos mares mais agitados do mundo.
O grande Mar de Drake separa a América da Antártica e fica exatamente na ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico. Ele tem esse nome em homenagem ao navegador inglês Francis Drake que, por incrível que pareça, nunca por ele navegou.
Hoje, navios modernos partem de Punta Arenas, no Chile, e de Ushuaia, na Argentina, para navegar entre os fiordes da Terra do Fogo até chegar à Ilha de Hornos.
A bordo do navio de expedição Stella Australis, que refaz parte da rota feita por Fernão de Magalhães, navego pelo Estreito de Magalhães, e por outros canais como o Beagle, exclusivo para navios com bandeira chilena.
A aventura de chegar ao ponto mais extremo do mundo você acompanha a partir de agora.
Chegando ao fim do mundo
É terça-feira e o dia ainda não amanheceu, mas o Stella Australis já se aproxima da ilha mais mítica do continente sul-americano.
É emocionante estar nesse lugar e saber que pouquíssimas pessoas conseguiram vencer a fúria dessas águas tão agitadas: esta é a maior zona de naufrágios do mundo, com mais 800 navios registrados, mas há suspeitas de que o número seja muito maior.
Depois de apreciar o nascer do sol pela janela da cabine, decido me levantar.
São 6h30 e daqui a pouco todos teremos que nos apresentar para o desembarque na Ilha de Hornos.
Há três fatores muito importantes que decidirão sobre a possibilidade de descer na ilha: a velocidade do vento, a altura das ondas e a forma como elas chegam à praia. Somente com esses três vetores favoráveis é que poderei pisar a ilha mais desejada da navegação mundial.
O dia parece ótimo. O sol brilha entre algumas nuvens, o vento não ultrapassa os 40 km/h e o mar parece calmo, apesar de o navio balançar muito em um movimento de vai e vem, da esquerda para a direita.
Depois de fazer o reconhecimento do terreno e das condições na praia, o chefe da expedição confirma: vamos desembarcar.
Fico eufórico, mas preciso esperar as instruções de descida para colocar o pé no fim do mundo.
Uma área protegida
O Parque Nacional Cabo de Hornos tem pouco mais de 63 mil hectares. Nele, vive uma família cujo oficial da marinha é o responsável pela manutenção do farol que orienta os navegadores.
Além da casa onde moram, há apenas uma pequena capela e o belíssimo monumento ao albatroz – a escultura do albatroz tem sete metros de altura e foi inaugurada em dezembro de 1992.
Enquanto fotografo as belezas de Hornos ainda do navio, a má notícia chega pelos alto-falantes: o desembarque tinha sido cancelado devido a mudanças na maré.
A variação chegava a um metro e meio e, nessas condições, descer do navio e subir no bote pode ser perigoso e causar acidentes graves. Precavido, o capitão prefere não prosseguir.
O aviso soou como um balde de água fria sobre minha cabeça.
Mais do que isso! Confesso que me senti como se todo o gelo das montanhas ao redor caísse sobre mim.
Aquilo era muito desanimador e eu estava muito desapontado. Porém, é por conhecer os limites da expedição que o Stella Australis nunca registrou um acidente.
Desamparado, me agarro na história de que navegar pelo Cabo de Hornos é mais importante do que descer na ilha. Afinal de contas, mais de dez mil homens perderam suas vidas tentando alcançá-lo sem sucesso. Isso eu consegui.
Visitar o Cabo de Hornos e navegar por essas águas foi muito mais do que uma aventura no fim do mundo.
Para mim, foi uma viagem reflexiva e um marco na minha história de viajante.
Para que você experimente um pouco do que esse pedaço de terra representa, compartilho o poema de Sara Vial, gravado no monumento que homenageia todos os homens que foram sepultados no mar.
“Sou o albatroz que te espera no fim do mundo.
Sou a alma esquecida dos marinheiros mortos que cruzaram
O Cabo de Hornos desde todos os mares da Terra.
Mas eles não morreram nas furiosas ondas, hoje voam em minhas asas
Até a eternidade, na última fenda dos ventos antárticos.“
Planeje sua viagem à Ilha de Hornos
Quando ir
A temporada de cruzeiros nesta parte do mundo começa em setembro e vai até abril, mas os melhores meses são de novembro a janeiro, quando há mais baleias, pinguins e outros animais na região.
Como chegar
De Punta Arenas e de Ushuaia partem os navios da Australis que chegam à Ilha de Hornos.
Há viagens de três, quatro e sete dias que percorrem parte do Estreito de Magalhães e os belos fiordes patagônicos. Outras empresas oferecem a viagem partindo de Ushuaia.
Quanto custa
A viagem no estilo all inclusive – isso inclui bebidas alcoólicas – custa a partir de USD 2.900 e varia de acordo com a quantidade de dias e com o navio escolhido.
O que levar
Esteja preparado para o frio.
O ideal é usar agasalhos no estilo de camadas, de modo que você possa tirá-los à medida que caminha e que seu corpo se aquece. Uma segunda pele, um casaco intermediário e um impermeável completam as três camadas.
O mesmo vale para as pernas. Use tênis de trekking – ou equivalentes – que sejam impermeáveis e confortáveis.
Leve um par de luvas, gorros e o que achar conveniente para se proteger. Óculos de sol e protetor solar são indispensáveis.
boa noite
o mais importante é saber se tem o barco bate e volta!! de ushuaia ao cabo hornos.
Oi, Silvio.
Os passeios são geralmente de ida e volta, já que não é permitido pernoitar na Ilha.
Um abraço.
Olá, desculpa, pelo o que eu entendi, pra conhecer essa região é somente com cruzeiro?
Oi, Fernanda.
Algumas partes da Patagônia, sim, só de cruzeiro.
Dá para ir ao Cabo de Hornos com navios que partem de Ushuaia, como eu explico no texto.
Neste caso, a viagem é tipo bate-volta.
Um abraço.
Que lugar fascinante! Quem sabe um dia irei lá! Fiquei na dúvida agora: Só tem essa casa na ilha toda? Em qual parte exatamente da ilha que ela fica?
Oi, Rodrigo.
Como a ilha não é grande e por ela ser a única construção, será fácil identificar.
Um abraço.
Olá, planejo ir ao Cabo Hornos, porém, gostaria de um passeio em bate volta, de um dia, partindo de Ushuaia, você acha possível? existe esse passeio?
Oi, Hudson.
Na minha pesquisa e pelo que vi lá, não encontrei passeio bate-volta para O Cano de Hornos. Mas, pode ser que você encontre.
Desculpa por não pode ajudar.
Um abraço.
Oi, me identifiquei muito com as primeiras frases do post.. realmente me fascina os extremos! Há alguma outra maneira do que em navio para chegar até esse lugar? Queria ir a punta arenas em maio, conhecer Torres del Paine e chegar ao fim do mundo hehehe me motivou muito seus posts só fiquei preocupada com a época que escolhi!
Oi, Jheniffer.
Infelizmente, esta é a única forma de chegar aqui. Além da Australis, há outros barcos que fazem o trajeto.
Eu fui no mês de setembro e, como você vê nas fotos, os dias estavam lindos.
Veja tudo da minha viagem aqui: https://www.penaestrada.blog.br/tag/patagonia/
Um abraço.
O lugar parece que foi pintado!
É perfeito e muito emocionante. 😉
Demais! Amei as fotos, amei as dicas! Parabéns pelo post.
Muito obrigado, Jeannie. 😉