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Profetas de Aleijadinho: maior obra barroca do período colonial

Atualizado em 10 de janeiro de 2024 – POR ALTIER MOULIN

Congonhas do Campo – ou apenas Congonhas, como é chamada pela maioria das pessoas – é uma cidade pequena e que tem uma trajetória histórica muito interessante: é nela que fica a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, onde estão os  doze profetas de Aleijadinho. 

A cidade foi fundada em 1734, durante o período áureo da corrida pelo ouro. Hoje, ela é uma das mais tradicionais de Minas Gerais e um dos polos culturais do Estado.

A Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos começou a ser construída em 1757, mas a obra só foi concluída em 1790 – muito tempo, não acha?

No altar da igreja está a imagem do Senhor Morto. É por causa dele que milhares de devotos visitam a Basílica todos os anos.

Mas, além de toda essa representação religiosa, o inestimável valor artístico da Basílica, somando as esculturas dos 12 profetas de Aleijadinho, faz desse conjunto a maior expressão do Barroco brasileiro. 

Mas, como nasceu a ideia de fazer uma obra tão significante assim? É isso que eu vou explicar.

A iniciativa de construir o grandioso Santuário de Bom Jesus do Matosinho partiu do português Feliciano Mendes, devoto do Bom Jesus, em pagamento a uma promessa.

Os profetas de Aleijadinho

Na Basílica ficam os 12 profetas feitos em pedra sabão, mas há outras 66 esculturas de madeira em tamanho natural – representando os Passos da Paixão de Cristo – criados pelos maiores representantes da arte barroca mineira do século 18: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manoel da Costa Athayde, o Mestre Athayde.

O fabuloso conjunto dos 12 profetas bíblicos foi esculpido entre 1800 e 1805. Harmoniosamente distribuídos na escadaria que dá acesso à parte principal da igreja, os profetas traduzem suas profecias. Ali, estão Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Abadias, Amós, Jonas, Habacuc, Naum e Isaías.

Estudos supõem que Aleijadinho  não escolheu os doze profetas por acaso:  há suspeitas de que o seu desejo era de registrar na história o seu próprio nome.

Nesta teoria, a complexa elaboração do artesão seria assim: Amós seria o primeiro da fila. A letra ‘L’ seria formada pelo profeta Baruc, que em hebraico significa ‘louvado seja’.

A combinação segue com Ezequiel e a soma de Jonas e Joel, que resultaria na letra ‘I’, já que em latim as duas iniciais seriam traduzidas como sendo esta vogal. Jeremias, Abadias, Daniel, Isaías, Naum, Habacuc e Oséias completariam o nome.

Será que isso é verdade? Eu não duvido da sagacidade de um homem que conseguiu fazer tudo o que fez.

QUEM ERA ALEIJADINHO?

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, foi um importante artista do período colonial brasileiro, responsável por centenas de obras que enfeitam as cidades históricas de Minas Gerais.

Pouco se sabe sobre a vida de Aleijadinho, porque há muitas versões para os mesmos fatos – assim, fica difícil comprovar algumas teorias. Mas, o que se pode afirmar é que ele foi um excepcional artista, transitando entre o Barroco e o Rococó.

Ele recebeu esse apelido por causa de uma doença degenerativa misteriosa que maltratou seu corpo, levando, inclusive, a amputação de dedos das mãos e dos pés. As deformidades também atingiram seu rosto, que é descrito por historiadores como grotesco e assustador.

Aleijadinho, filho de mãe escrava e pai branco, morreu em 18 de novembro de 1814, aos 84 anos, em Ouro Preto.

Passos da Paixão

No caminho que leva à Basílica, as 66 estátuas esculpidas em cedro ornamentam as seis capelinhas construídas a partir de 1808. As figuras foram inspiradas no conjunto do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal.

A Última Ceia, que merece destaque, tem imagens inteiramente esculpidas por Aleijadinho e pintadas por Athayde.

Críticas

O jornalista Leandro Narloch, em seu Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, registra a polêmica em torno das obras de Aleijadinho.

Segundo o autor, fortes críticas de seus contemporâneos desqualificavam as obras do artesão e destacavam as incoerências e deformidades registradas em suas obras.

Segundo os relatos, a imperfeição dos rostos e os membros com tamanhos diferentes seriam características de uma obra com baixa qualidade.

Narloch ainda apresenta questionamentos sobre a verdadeira história do artesão.

No capítulo que trata sobre Antônio Francisco Lisboa, ele põe em dúvida a narrativa de que ele teria sofrido mutilações, resultados de uma doença degenerativa de causa desconhecida.

O autor conta que não há registros sobre a doença do artesão, a não ser um texto escrito pelo jurista e deputado estadual Rodrigo Ferreira Bretas, cinco décadas depois da morte do artesão, sem nenhuma base científica ou documental.

Narloch deixa claro que se tratava de uma história romantizada, propagada e incentivada pela Coroa Portuguesa, já que, naquela época, o Brasil precisava ter motivos para ter orgulho de si mesmo.

Patrimônio da Humanidade

O conjunto arquitetônico e artístico do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos recebeu, da Unesco, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1985.

O monumento foi reconhecido como um dos  mais completos grupos de esculturas de profetas do mundo  e é considerado uma das obras-primas do Barroco mundial, do gênio criativo e da perseverança de Aleijadinho, que, contra todas as limitações impostas pela doença, no final de sua vida, deixou no alto do Monte Maranhão uma obra impressionante.

Em 2015, foi inaugurado o Museu de Congonhas, que tem uma exposição riquíssima sobre o complexo de Matosinhos e da história da cidade.

Além disso, o museu monitora e avalia o estado de conservação do sítio do Patrimônio Mundial e articula redes e projetos de estudo sobre o Barroco e a pedra sabão.

Como visitar a Basílica de Matosinhos

Quanto custa

A entrada na Basílica é gratuita, mas para visitar o museu é preciso pagar R$10. ​Crianças de até onze anos não pagam e idosos pagam meia. Estudantes com carteirinha também pagam meia entrada, independente da idade.

A entrada no museu é gratuita toda as quartas-feiras.

Como chegar

Congonhas do Campo fica a 80 quilômetros de Belo Horizonte. De carro, a viagem dura cerca de 1h30. Então, dá para fazer um bate-volta, saindo pela manhã e retornando no final da tarde.

O aeroporto mais próximo é o Aeroporto Internacional de Confins (CNF), que fica 127 quilômetros da Basílica. A Viação Sandra faz a rota de ônibus saindo da capital mineira.

Quando ir

A Basílica pode ser visitada todos os dias. Em setembro acontece o Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, uma das festas religiosas mais tradicionais de Minas Gerais.

O Museu de Congonhas funciona de terça a domingo, de 9h às 17h.

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