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Como é a visita a Sachsenhausen

Atualizado em 23 de setembro de 2016 – POR ALTIER MOULIN

Como em qualquer outro campo de concentração, a visita a Sachsenhausen não é fácil. Mesmo depois de mais de 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, há tristeza e dor em cada metro quadrado das ruas e dos prédios que restaram desse terrível lugar. Hoje, ele pode ser visitado como um memorial.

Construído em 1936, anos antes de a guerra começar, o acampamento de Sachsenhausen sempre foi usado para aprisionar e eliminar os desafetos do partido nazista, comandado, na Alemanha, por Adolf Hitler. Mais tarde, prevendo os duros combates que tomariam a Europa, toda a estrutura foi ampliada. Nessa obra, parte  foi transformada em um campo de treinamento do exército alemão.

Como é a visita a Sachsenhausen
Janela de um dos barracões do campo de concentração.

Sabendo que precisavam reunir o maior contingente possível, eles recrutavam, principalmente, jovens do interior do país. Estes se deslumbravam facilmente com a possibilidade de deixar uma vida medíocre para ganhar poder, respeito e reconhecimento defendendo o seu país. E tudo isso, para eles, começava quando ganhavam o uniforme preto da SS, organização paramilitar ligada diretamente a Hitler.

SOBRE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Segunda Guerra Mundial teve como motivação principal a conquista de territórios por parte da Alemanha nazista. O país tinha o claro objetivo de repovoar toda a Europa com a raça alemã.

O primeiro passo para a maior guerra de todas as eras aconteceu em 1º de setembro de 1939, quando o exército de Hitler invadiu a Polônia. Dezesseis dias depois, o exército vermelho da ex-União Soviética também entrou no combate avançando pela fronteira oriental do país. A maioria das tropas polonesas se concentrava na porção ocidental, por onde avançavam os militares alemães.

O que o mundo ainda não sabia, até então, é que toda essa trama de ocupação e de divisão da Polônia já tinha sido acordada entre Stalin, líder da antiga União Soviética, e Hitler, comandante das forças alemãs, no Pacto de Não-Agressão.

Disputando o mesmo território, os dois países protagonizam uma guerra que devastou grande parte das cidades polonesas. Para ter uma ideia, Varsóvia, a capital da Polônia, teve mais de 85% de seu território destruído. Sua população foi reduzida drasticamente para cerca de 10%. De 1,3 milhão de pessoas, a cidade passou a ter pouco mais de 150 mil.

O imperdível Memorial do Holocausto, em Berlim
Mapa da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

No lado nazista, dezenas de campos de concentração foram criados. Inicialmente, eles abrigavam presos políticos – poloneses que se opunham ao regime nazista – e soldados soviéticos derrotados nos combates. Mais tarde, esses campos passaram a receber judeus vindos de diversas partes da Europa. Em 1941, o continente já estava sob o domínio de Hitler.

Com o envolvimento de países como Estados Unidos, Inglaterra e França, os ataques ao domínio alemão se intensificaram. O número de civis mortos aumentou, tanto nos países ocupados, quanto na própria Alemanha. O maior conflito de todos os tempos acabou em 1945, com a rendição do Japão, país aliado da Alemanha, depois que Hiroshima e Nagazaki foram destruídas por bombas atômicas.

Os primeiros judeus trazidos para este campo de concentração chegaram, também, antes da guerra, em 1938. Assim que desembarcavam em Sachsenhausen, os presos tinham os pelos do corpo raspados e eram obrigados a vestir um uniforme listrado.

Como é a visita a Sachsenhausen
O uniforme listrado usado pelos prisioneiros.

Além disso, eles perdiam os documentos e deixavam de ser chamados pelos nomes. Eram identificados por números a partir de agora. Poucos dias depois de chegarem, os presos já estavam muito magros e desidratados, já que não recebiam a quantidade de alimentos suficientes.

SOBRE A IDEOLOGIA NAZISTA

Os princípios que nortearam a ideologia nazista foram o ódio aos judeus, a negação da democracia e do comunismo, e a convicção da superioridade da raça alemã sobre qualquer outro povo. Com a ideia de criar uma sociedade pura, livre de outras etnias, os nazistas perseguiram e mataram milhões de judeus, mas não apenas. Eslavos, russos, ciganos, homossexuais e tantos outros grupos entraram na lista. Todos foram capturados, escravizados e assassinados nas câmaras de gás, ou simplesmente fuzilados.

Liderado por Adolf Hitler, o Partido Nazista tomou o poder na Alemanha em 1933. Desde então, a política de doutrinação da população por meio da propaganda, que mostrava uma realidade disfarçada, passou a ocupar os veículos de comunicação nacionais.

Isso criou, em parte dos alemães, uma forte simpatia com os ideais defendidos pelos nazistas. Em um de seus famosos pronunciamentos, durante o congresso do Partido Nazista de 1937, Adolf Hitler defendeu o seu modelo nada convencional de formação. “Estamos educando uma juventude diante da qual o mundo inteiro temerá. Eu quero uma juventude que seja capaz de realizar violações, e que seja forte, poderosa e cruel”, declarou o ditador.

Em busca de poder, a Alemanha nazista matou, invadiu territórios e levou a Europa e países como Estados Unidos e Japão a se envolverem na maior guerra de todos os tempos. Uma guerra que não apenas mudou as relações políticas, mas que, principalmente, marcou para sempre a história da humanidade.

A estratégia dos nazistas era de que eles perdessem a individualidade e passassem a ser tratados como uma massa, um bando de animais. Depois desse processo, além de judeus, ciganos, Testemunhas de Jeová, gays e soldados soviéticos eram confinados, escravizados e mortos sem qualquer pena.

Como é a visita a Sachsenhausen
Homenagem aos soldados soviéticos que foram fuzilados em Sachsenhausen.

Como é visitar Sachsenhausen

A visita a Sachsenhausen começa no centro de visitantes. Ali tenho uma breve introdução da história do lugar, e recebo orientações importantes para a manutenção do Memorial.

Depois, passo pela Torre A. É onde está o portão de entrada de Sachsenhausen, com a célebre frase nazista que tentava encobrir todo o sofrimento guardado aqui dentro: arbeit macht frei. Em alemão significa o trabalho liberta.

Como é a visita a Sachsenhausen
A Torre A, o portão de entrada para a morte.
Como é a visita a Sachsenhausen
A célebre frase que marcava todos os campos nazistas.

Ao cruzar esse portão, eu já sinto calafrios. Me lembro do que vi nos campos de concentração de Auschiwtz, na Polônia, e no de Terezín, na República Tcheca. Mas, avanço sob um céu pesado, com nuvens escuras e um vento frio que sopra sem parar.

Logo, vejo um prédio que faz parte do museu e que abriga algumas peças em memória dos soldados soviéticos mortos em Sachsenhausen. Os vitrais, os painéis e os objetos contam essa história que pouco lembramos.

Como é a visita a Sachsenhausen
Vitrais da primeira sala do Memorial.
Como é a visita a Sachsenhausen
O uniforme nazista.

Depois, a visita segue para a prisão. Passo por celas minúsculas, sem qualquer conforto e sem sistema de aquecimento. Imagine como era isso no inverno alemão. Aqui eram lançados os inimigos políticos do regime de Hitler. Justamente por causa do frio, muitos morriam de pneumonia.

Como é a visita a Sachsenhausen
Uma homenagem aos presos de Sachsenhausen.
Como é a visita a Sachsenhausen
Uma das celas onde ficavam os presos políticos.

Nos poucos barracões que restaram – muitos foram destruídos pelos nazistas assim que perceberam que perderiam a guerra –, exposições mostram como era a vida dentro do campo de concentração. Objetos, depoimentos, desenhos e móveis recriam os ambientes sombrios que se multiplicavam por todos os lados.

Como é a visita a Sachsenhausen
Alguns barracões, ao fundo, e a área que eles ocupavam, antes de serem destruídos.
Como é a visita a Sachsenhausen
O interior dos barracões como era na época da guerra.
Como é a visita a Sachsenhausen
Uma das salas do museu.

Morte e cremação

Tudo aqui é tristeza e não há como fugir disso. Mas, sem dúvida, passar pelo local onde os prisioneiros eram exterminados é o momento mais doloroso. No muro de fuzilamento, nas quase destruídas câmaras de gás e nos fornos onde os corpos eram cremados, ainda repousa um véu de dor que nunca terá fim.

Como é a visita a Sachsenhausen
Entrada da câmara de gás e do crematório.
Como é a visita a Sachsenhausen
O que restou da câmara de gás.

Aqui, inocentes eram enganados e enviados para a morte sem saber qual o crime haviam cometido. Esse crime, muitas vezes, era sua etnia, sua fé ou sua sexualidade e, por causa disso, morrer era a pena que recebiam.

Como é a visita a Sachsenhausen
Os fornos que queimavam os inocentes.
Como é a visita a Sachsenhausen
Escultura que homenageia os mortos na câmara de gás.
Como é a visita a Sachsenhausen
O muro de fuzilamento.

Mas o sofrimento não se limitava à morte abreviada pela maldade de quem queria o poder. No campo de Sachsenhausen, também foram feitos experimentos médicos com seres humanos – incluindo crianças: cirurgias era feitas sem anestésico, nervos e músculos eram arrancados criando indivíduos mutilados, e homossexuais eram castrados e, muitas vezes, liberados para serem abusados pelos soldados.

Quando foi alcançado pelas tropas soviéticas, em 1945, mais de 65 mil pessoas estavam presas em Sachsenhausen, sendo que mais de 10 mil eram mulheres. Depois disso, o campo ainda foi usado como prisão e centro de treinamento pela antiga União Soviética, até 1950.

Como é a visita a Sachsenhausen
O galpão de patologia, como indica a placa, era onde os experimentos médicos aconteciam.
Como é a visita a Sachsenhausen
A sala de autópsias.

Programe sua visita a Sachsenhausen

Quanto custa | A visita ao campo de concentração de Sachsenhausen é gratuita. Passeios guiados custam EUR 15, para grupos com até 15 pessoas, e EUR 25, para até 30 pessoas.

Quando ir | O Memorial abre das 8h30 às 18h, de março a outubro, e das 8h30 às 16h, de novembro a fevereiro. Durante o inverno, o museu fecha nas segundas-feiras, mas as demais áreas permanecem abertas.

A primavera e o verão são as melhores épocas do ano para visitar a Alemanha. Os dias são mais claros, mais longos e a temperatura mais agradável, ideal para atividades ao ar livre. Em Berlim, chove mais nos meses de junho a agosto, e o frio é constante de dezembro a fevereiro.

Como é a visita a Sachsenhausen
A visita guiada é indispensável.

Quem leva | Várias agências oferecem passeios para o campo de concentração de Sachsenhausen. Eu fiz a reserva pelo site da Viator e tive uma excelente experiência. Veja aqui todos os preços e faça sua reserva.

Como chegar | O antigo campo de concentração de Sachsenhausen fica na Straße der Nationen, 22, na cidade de Oranienburg, a 57 quilômetros de Berlim. De trem, a viagem é rápida e confortável, mas é importante saber que você precisa comprar o tíquete ABC, que custa cerca de EUR 7,50 e que vale para ida e para a volta.

O trem para na estação Sachsenhausen, que é a última das linhas S42 e RB12. Daqui, você deve tomar o ônibus das linhas 804 ou 821, que para em frente à estação e que nos leva ao Memorial. Para voltar, basta fazer o caminho inverso. Se preferir, a caminhada da estação até Sachsenhausen demora cerca de 20 minutos.

Perto da estação há várias opções de lanchonetes, inclusive um McDonald’s.

De carro, você pode seguir pelas rodovias A100 e A111 e, depois, pela a E251. Todo esse trecho é asfaltado e está muito bem conservado.

Onde ficar | O ideal é fazer um bate-volta partindo da capital alemã, já que a pequena cidade onde está Sachsenhausen não tem muitos atrativos. Berlim tem ótimas opções de hospedagem, mas escolher uma localização ideal para o seu perfil vai fazer toda a diferença. Eu mostro os melhores lugares e indico alguns hotéis nesse post: Onde se hospedar em Berlim.

Reserve já o seu hotel em Berlim e garanta os melhores preços. 

Visto e documentos | Brasileiros não precisam de visto para entrar na Alemanha, e podem permanecer aqui por até 90 dias. Na chegada, o oficial da imigração poderá exigir, além de seu passaporte, a passagem de volta e o comprovante do seguro viagem, que é obrigatório para todos os países que assinaram o Acordo de Schengen.

Outras informações | Para ver outras informações sobre a Alemanha e planejar sua viagem com mais precisão, leia: Viagem para a Alemanha: o que você precisa saber. Para quem gosta de cinema, uma boa dica é dar uma olhada nessa lista: Nove filmes sobre a Segunda Guerra Mundial.

SOBRE O AUTOR

COMENTÁRIOS

6 respostas

  1. Visitei ano passado, foi uma sensação única, muita tristeza, um sentimento que vou guardar para sempre. Me lembro do cheiro, do vento, de tudo… Nunca vou esquecer esse lugar.

  2. Oi, Anderson.

    Eu saí do hotel umas 8h e voltei umas 15h. Mas, claro, depende do tempo que você vai gastar lá dentro.
    Talvez fique um pouco corrido para você. Avalie.

    Um abraço.

  3. Olá, Altier.
    Para conhecer esse Campo de Concentração, eu preciso dedicar o dia todo? Saindo cedo de Berlim, conseguiria fazer o tour e voltar até às 14h?
    Parabéns pelo blog.

    Obrigado.

  4. Oi, Mariana.

    Muito obrigado por suas palavras. Precisamos espalhar essas histórias para que elas não se repitam.
    É mesmo um lugar muito triste, mas a visita é muito importante.

    Um abraço.

  5. Visitei esse campo em 2015. como não tive oportunidade de ir em outros campos, sem dúvida alguma foi o lugar mais triste que já vi na vida. impossível não se sensibilizar com o sofrimento imposto a milhares de pessoas. encontrei seu site por acaso, pois estava à procura de um link para enviar a uma amiga que está viajando para Berlim na próxima semana e me perguntou se valeria a pena perder um dia na capital para ir ao campo. está muito bem escrito e detalhado. parabéns

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